4o. Bloco de Trovas de Paulo Nunes Batista*
De Fé: Seja noite, seja dia,
Acende o farol da fé:
Na tristeza, na alegria,
Mantém-te firme, de pé!
De Orar: Rogas a Deus te permita
Servi-lo e olvidas os teus
Irmãos, filhos da Infinita
Sabedoria de Deus!
De Amar: No caminho, em qualquer ponto,
O cristão precisa estar,
Dia e noite, sempre pronto,
Provando que sabe amar.
De Agir: Se tu nunca praticares
Esse bem, que já conheces,
Não te valerão altares,
Velas, imagens, nem preces.
De Humor: Tua dor, tuia tristeza,
Tuas mágoas, teus espinhos,
Não darão luz nem beleza
Às pedras dos teus caminhos.
De Falar: Falar muito de bondade,
Sem que vás além do som,
Não te traz felicidade,
Pois ser feliz é sem bom.
De Temer: Perfídia, calúnia, intriga,
Cruzam contigo na estrada?
Recebe a dor como amiga
E prossegue na jornada!
De Pensar: Contemplando a sementeira,
Pensa no bem, na fartura,
- no pão, para a terra inteira,
sem espírito de usura!
De Julgar: Não critiques o terreno
Estéril, sáfaro, hostil...
Dá-lhe adubo...E um grão pequeno
Pode transformar-se em mil!
De Servir: Enfermidade, velhice,
Não te privem de servir...
Temer a morte é tolice!
Serve! E deixa a morte vir...
De Ajudar: Para ti queres justiça
E Equidade, a todo custo.
Será que na humana liça
Tu já consegues ser justo?
De Plantar: Semeamos e colhemos,
Dia a dia, vida além.
Da vida só recebemos
O que plantamos, porém...
De Mostrar: Mostras a cada momento,
O rumo do teu fanal,
Nos atos, no pensamento,
Para o bem ou para o mal.
De Possuir: Tempestade os bens te ofende?
Em vez de te lamentares,
Lembra que dela depende
A vida, em outros lugares...
De Perdoar: Traça teu próprio roteiro.
E em toda parte aonde fores,
Não te quedes prisioneiro
De magoas nem dissabores.
De Solidão: Reclamas sinais à altura,
Que provem de Deus o Amor.
Vê: da solidão escura
Sai o milagre da flor!
De Destino: Deus está sempre contigo
E todos os filhos seus...
Mas...só no Bem, meu amigo,
Podemos estar com Deus!...
De Ser Bom: Se és bom, mesmo, de verdade,
Na Terra ou seja onde for,
Muito mais do que piedade
Darás, pois darás Amor!
De Aprender: Ler maravilhosas obras,
Sem se aplicar o que leu,
É provar, com muitas sobras,
Que o que é bom não se aprendeu.
De Melhorar: Se os Mandamentos conheces
E o que eles mandam – não fazes:
Por mais que tu faças preces
Nunca passarás de frases...
De Diálogos: Não fales nas qualidades
Que acaso tu julgues ter:
Torna-as, sim, realidades
No modo de proceder!...
De Silêncio: Se encontras, no teu roteiro,
O irmão discutidor,
Ajuda esse companheiro
Com teu silêncio de amor.
De Ser Forte: Teu desânimo, teu tédio,
Não levantarão ninguém,
Nem servirão de remédio
Para quem forças não tem.
De Paciência: Todo nervoso é doente:
-com sua neurastenia
recebe-o, fraternalmente,
com bondade e simpatia.
De Dar e Receber: Teu espírito suplica
Um pouco de Amor e Paz,
E há muita gente que fica
Isto a pedir-te... e não dás!
(*) Paulo Nunes Batista (João Pessoa-PB, 02/08/1924), poeta e escritor paraibano radicado em Anápolis-GO, é autor, entre outros, dos livros: Canto Presente (1969), Cantigas da Paz (1971), A Caminho do Azul (1979), De Mãos Acesas (1981), ABC de Carlos Drumond de Andrade e Outros Abecês (1986), O Sal do Tempo (1996), O Vôo Inverso (2001) e Alguns Poemas (2003) – poesia-.; Anápolis em Tempo de Música (parceria com Jarbas de Oliveira, 1993) – ensaio.; e Chamego, o urubu (1997) – contos.
Bacharel em Direito, repentista, cronista e jornalista, escreve na imprensa do Brasil e Portugal desde 1940. Em 1944 representou o Brasil nos Encontros de Improviso em Lisboa. Membro da Academia Goiana de Letras (Cadeira no. 8), Membro-Correspondente da Academia Paraibana de Letras, Sócio-Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) e de outras entidades culturais. Consta de antologias e é citado por diversos autores.
|