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Artigos-->A MÚSICA ALEATÓRIA E COSMOPOLITA E VINHOLES -- 17/11/2023 - 20:20 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

 


 

 

 

 

A MÚSICA ALEATÓRIA E COSMOPOLITA DE VINHOLES

 

L. C. Vinholes

20231117

 

         Vinte e dois anos depois de ter sido entrevistado por Roberto Luís Alves Ribeiro, encontrei em uma das múltiplas pastas do meu computador, o texto por ele publicado na seção Cultura do jornal Diário Popular, de Pelotas. Roberto Ribeiro, jornalista formado em 1995 pelo curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), atuou inicialmente no Diário da Manhã e depois no Diário Popular, como repórter, coordenador e editor, onde ocorreu nosso primeiro encontro. Em recente e gratificante contato virtual, fiquei sabendo que ele deixara o jornal de Pelotas e presta serviços para o Tradição Regional, jornal fundado em 2006, “voltado principalmente para prestar informação à população urbana e rural de Pelotas e da Metade Sul do Rio Grande do Sul”.

 

Lembrei que, do nosso encontro, foi testemunha o amigo e professor Mario de Souza Maia que desempenhava as funções de coordenador do então Instituto de Letras e Artes (ILA), da Universidade Federal de Pelotas, e que acabara de defender a tese de doutorado Serialismo, Tempo Espaço e Aleatoriedade, A obra do compositor Luiz Carlos Lessa Vinholes (1999), atendendo ao requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, junto ao Curso de Pós-Graduação em História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

 

         A entrevista de 21 de abril de 2001 é abrangente e tem informações que me interessam serem divulgadas ao público de hoje, razão pela qual volta a estar disponível na sua forma original. Segue a transcrição da entrevista.

 

Luiz Carlos Vinholes nasceu no bairro Fragata, lá, "no fim da linha do bonde", como se refere. Apesar do local, este compositor de música erudita contemporânea nunca esteve a reboque do que quer que fosse. Obstinado pelo novo, sempre se colocou à frente das coisas. Considerado um dos precursores da música aleatória - ao lado do norte-americano John Cage - este pelotense de 68 anos, funcionário público aposentado do Ministério das Relações Exteriores, está de visita à terra natal após quatro anos de ausência.

 

Além de rever amigos, como o professor de História da Música do ILA[i]/UFPel, Mário Maia, cuja dissertação de mestrado é sobre sua obra, e a pianista e contista Yara André Cava - a "madrinha" -, codinome que ele a batizou após indicá-lo para estudar com o professor alemão H. J. Koellreutter - Vinholes proferiu semana passada duas palestras na cidade. Dirigidas a artistas, professores e estudantes, abordou a efervescência cultural da São Paulo dos anos 50 -, quando eclodiam movimentos de vanguarda em praticamente todas as manifestações artísticas -, e a criatividade do fazer musical. "Foi excelente", elogiou. "O público se mostrou interessado e não me atirou as pedras[ii] que eu pedi para que levassem na segunda palestra", ri.

 

O início da carreira remonta a movimentada Pelotas da primeira metade do século 20. Diferente do vanguardismo paulistano, a efervescência por aqui era de outra ordem. Predominava a tradição européia. "Hoje cultuar esta tradição faz muito menos sentido do que naquela época", critica, "como você vai analisar uma sonata de Bach sem conhecer harmonia funcional: sem essa ferramenta não se penetra na análise das peças nem na de determinados acordes."

 

Mas era o que se tinha. "E não era pouco" - adverte. Dentro desse universo, Vinholes fez de tudo. Estudou com o maestro Pinto Bandeira[iii], foi copista da Orquestra Sinfônica de Pelotas, conheceu instrumentação no Conservatório, fez parte do coral da Catedral São Francisco de Paula, o qual, naquela época, se apresentava em Canto Gregoriano. Até pela redação do Diário Popular o compositor se aventurou: "É verdade, escrevi crônica policial e poesias, estas, sob o pseudônimo de Luiz Magloir."

 

Em 1952, com 19 anos, transferiu-se para São Paulo. Estudou e trabalhou na Escola Livre de Música com H. J. Koellreutter. Em meio aos irmãos Campos, Décio Pignatari, Niemeyer, Pedro Xisto, Décio de Almeida Prado, Lia Carvalho[iv], entre tantos notáveis, Luiz Carlos Vinholes não tardou a grifar seu nome. Em 1955 já dava seus primeiros passos na música aleatória, estudando música eletrônica.[v]

 

Em 1957, dia 4 de agosto, embarcava no porto de Santos rumo ao Japão. Em Tokyo, como bolsista do governo japonês, estudou música antiga japonesa e tornou-se um embaixador da cultura brasileira de vanguarda. Coube a este pelotense levar a poesia concreta ao Japão. "Foi lá também que entrei para o quadro do Ministério das Relações Exteriores e conclui o trabalho em música aleatória que começara anos antes em São Paulo", relembra[vi].

 

Depois do Japão, onde ficou por 14 anos, Luiz Carlos Vinholes passou por Itália, Paraguai e Canadá. "Em todos os lugares dei continuidade à minha obra e atuei, espontaneamente, como um adido cultural do Brasil", acrescenta.

 

Atualmente, aposentado das funções de funcionário público federal, Vinholes está radicado em Brasília, de onde não pretende sair: "Meu trabalho ainda não terminou, quero estar sempre habilitado a pensar e criar coisas novas, pois a busca disso é o que chamo de vida." A quem se filia a esta filosofia, o compositor garante sua disposição em colaborar. E dá uma dica: "Tem que ter disciplina, pragmatismo, dedicação e seriedade."

 

[i] O Instituto de Letras e Artes da UFPel, passou a chamar-se Centro de Artes pela portaria 1.718, de 04.11.2010.

[ii] Em várias oportunidades, nos eventos que promovi, solicitei aos participantes que troucessem uma pedra, qualquer que fosse, para participarem da instalação que seria construída no local do evento.

[iii] José Duprat Pinto Bandeira (1985-1955), da segunda geração dos músicos multi-instrumentistas do clã dos Bandeiras de Pelotas.

[iv] Lia Carvalho Robatto, filha do poeta Pedro Xisto, foi aluna de dança da bailarina e coreografa de origem polonesa Yanka Rudzka, da Escola de Música da Pró Arte, em São Paulo. Lia, coreógrafa e dançarina, é diretora da escola de dança  da Universidade Federal da Bahia.

[v] Foi membro-fundador do primeiro Estúdio de Música Eletrônica, na Escola Livre de Música da Pró Arete, em São Paulo ao lado dos estúdios de Paris, França, e Colônîa, na Alemanha.

[vi] Os parâmetros da Instrução 61, para quatro instrumentos quaisquer foram estabelecidos no final de 1961 e o primeiro uso ocorreu na passagem dos anos 1961/962, pelos músicos do Estúdio Nakajima, de Tokyo

Comentarios

Maria do Carmo Maciel Di Primio  - 20/11/2023

Bela trajetória de vida e profissional !!I
Importante dica: "Tem que ter disciplina, pragmatismo, dedicação e seriedade."

Roberto Luís Alves Ribeiro  - 17/11/2023

Não mudaria uma vírgula, Vinholes

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