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Contos-->Saudade -- 29/06/2003 - 16:25 (Marcel de Alcântara) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os pés na areia e os olhos no céu, a mente vagueia célere. As mais ternas esperanças teimam permanecer no coração abatido pelas emoções constantes, muitas decepções e sonhos despedaçados. Ele fecha os olhos agora orvalhados e sente uma brisa fria que vem do mar. Uma sinfonia de palavras amargas, devoram a sua memória cansada de guardar tais petardos a estilhaçar o seu espírito. Mesmo assim, ternas esperanças teimam envolver seu coração combalido. E o introspectivo rapaz escreve um nome na areia e fica observando-o como se ali estivesse em pessoa a dona do nome. E o tempo implacável, empurra a maré que apaga o que estava escrito e ele resolve finalmente levantar-se e caminhar. Vai recolhendo conchas pelo caminho até entrar no seu pequeno e aconchegante chalé. Limpa e deposita as conchas ao lado do computador. Acessa a internet e numa página onde tinha publicado vários poemas, passa horas relendo textos antigos e sente uma estranha sensação...
Num impulso apaga quase todos os poemas e arrepende-se. Mas ele os tem num caderno e também em disquete. Mesmo assim, arrepende-se. Sempre agindo por impulso, sempre... Ele sorri ao constatar essa particularidade indestrutível da sua personalidade. Quantas bobagens já cometera na vida, provocadas pelo seu temperamento impulsivo...
De repente alguém bate na sua porta e contrariado ele recebe a visita de uma senhora chamada Mirela, que quer como sempre lhe pedir um pouco de açúcar e principalmente fofocar. Como sempre ele escuta, mas não ouve, e entre um pensamento e outro relembra as palavras de sua mãe: "Tem gente que quando morre precisa de dois caixões, um é apenas para a língua". Após mexer a cabeça mecanicamente concordando umas mil vezes com tudo o que lhe era dito, o rapaz percebeu que tinha começado a chover e alertou a visitante que despediu-se levando um pouco do seu açúcar e também o seu guarda-chuva.
No dia seguinte bem cedo ele precisava sair e continuava chovendo. Então não teve outro jeito e acabou chegando na casa de um amigo, todo encharcado. Jogaram uma partida de xadrez que já durava uma semana e depois almoçaram. Em dado momento seu amigo comentou:
_Você sempre foi introspectivo e eu já me acostumei com o seu jeito, mas alguma coisa deve ter acontecido, pois nem monossílabos está pronunciando hoje...
O rapaz sorriu e disse que eram saudades inúteis. Saudades de um fantasma que não parava de perseguí-lo.
Seu amigo sabia do que se tratava e calou-se, pois a muito tempo tinha desistido de aconselhá-lo sobre qualquer assunto, principalmente coisas do coração.
Quase quatro horas da tarde ele se despediu e voltou correndo para o chalé. Quatro horas em ponto ele recebeu um e-mail. Sempre nesse horário isso acontecia. Era uma garota que ele tinha conhecido numa de suas longas caminhadas pela praia. Era domingo e como ela mesmo dizia: "Se não há nada para fazer no domingo, nem sair, ou ver televisão, e eu odeio futebol! Nada melhor do que enviar belas mensagens para os amigos". Esse comentário sobre futebol, foi a dica para que o rapaz sempre às quatro da tarde de domingo, ficasse a espera de um e-mail dela.
Mas mesmo esse interesse que ela conseguia despertar nele, suas longas conversas, seus passeios de vez em quando, não conseguiam fazê-lo tirar de sua cabeça uma outra garota.
O tempo passou, ele casou-se com aquela garota que não gostava de futebol, mas a outra nunca saiu do seu pensamento. E o rapaz costumava monologar essa frase: "Um dia vou morrer e a saudade vai ficar".
Décadas depois num dia cinza e frio, quando ele estava saindo de um banco, em um outro país, deparou-se com uma senhora que estava encarando-o e sorrindo, um sorriso inesquecível. Era ela! Apesar de mais de quase quarenta anos decorridos, eles se reconheceram e conversaram como quando eram jovens. E retomaram a antiga amizade, e a saudade morreu antes dos corpos, e a amizade permaneceu eternamente entre suas almas.


Marcel de Alcântara

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