Eu morava no campo,
Tirava do solo, o que a vida me deu de melhor. Aprendi com a correnteza do rio a ouvir, a ouvir o silêncio, o silêncio do cio, o silêncio... o silêncio da mata escrevendo nas sombras das folhas secas deitadas no caminho a paz da garça.
Iludi-me com a cidade. Vi o cenário daqueles gigantes de concreto, fiquei fascinado ao ver tudo de perto.
Sai à procura de emprego e encontrei de jornaleiro, pedreiro e operário. Como operário trabalhei alguns meses, com muita economia, comprei um carro, uma casa na periferia, toda uma fantasia...troquei a minha dignidade por coisas sem necessidades, mas necessárias, quando eu as queria.
Aprendi a mentir, a vagar no meio das horas sem idade...sem identidade.
Por tantas e tantas vezes usei a noite, usei seus vícios e toda a minha infantilidade para construir, o que hoje nem sei.
Fui preso a inúmeras correntes e celas do lado,
Drogado, me tornei dependente das marcas lícitas e conscientes,
Tornei-me também alcoólatra, e pobre de alma inveterada.
Agora moro no medo,
Agora moro na calçada, muito embora, um dia tenha conhecido a fama, hoje não sou nada.
Agora sigo essa estrada de muita luta.
Saber voltar é recomeçar, pois dessa vida, viver, é o que mais se deve levar em conta. E morrer todos os dia, ainda que sem aceitar, se experimenta um pouco.
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