Usina de Letras
Usina de Letras
92 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62296 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22541)

Discursos (3239)

Ensaios - (10393)

Erótico (13574)

Frases (50687)

Humor (20041)

Infantil (5461)

Infanto Juvenil (4785)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140826)

Redação (3311)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6213)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O ORIENTALISTA ERNST FENELLOSA E O TEMPLO MII DE OTSU -- 14/12/2022 - 11:05 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O ORIENTALISTA ERNEST FENELLOSA

E O TEMPLO MII DE OTSU

L. C. Vinholes

14.12.2022

 

Saindo de Kyoto por um dos trens que se dirigem ao norte, em poucos minutos se chega a Otsu, na Província de Shiga, cidade servida pela linha férrea que liga as cidades de Tokyo e Osaka. Além dos passeios de barco pelo Lago Biwa, um dos atrativos é a visita ao templo Mii, também conhecido por Onjo-ji, construído em 686, em memória do imperador Kobun, como quartel general do braço Jimon da seita budista Tendai. Nos tempos áureos, na extensa área por ele ocupada, existiam 859 edificações, mas hoje cerca de 60 podem ser visitadas.

 

Na minha ida a Otsu em meados de 1961, enfrentando sol e vento, tomei um taxi e conversando com o motorista perguntei o que ele recomendava a respeito do templo Onjo-ji. Desculpando-se, muito gentilmente respondeu que, embora ali nascido, nada sabia nem do templo nem da sua história, pois nunca o visitara e adiantou que, por muitos anos, dedicou-se apenas à pesca nas águas do lago. Perguntei o que ele poderia dizer a respeito de um estrangeiro chamado Fenellosa. Com entusiasmo, respondeu positivamente dizendo que foi um jovem convidado pelo imperador e que estava enterrado perto do templo e, sem muita certeza, adiantou que não sabia se ele teria morrido em Tokyo ou em Kyoto.

 

Meu objetivo era encontrar o túmulo com os restos mortais de Fenellosa. Pela montanha íngreme e com densa vegetação, andei por um caminho estreito que os japoneses chamam de yamamichi, com lodo, gafanhotos, borboletas, vespas e até capim cola-de-lagarto, parecido com o do sul do Brasil. Na caminhada passei pelo pátio do que seria a Associação Cultural de Otsu. Na entrada de uma construção velha e maltratada pelo tempo, pendia uma chapa de madeira na qual os visitantes, batendo, se anunciavam. Também dei a minhas batidas, mas como ninguém aparecia bati palmas. Finalmente, muitas vezes, em voz alta, repeti gomen nasai, expressar japonesa de quem pede desculpas. Continuei a caminhas e, depois de uns 20 minutos enfrentando um mormaço forte, cheguei ao que procurava. Sentei-me em uma pedra tendo à minha frente algo como uma urna sobre uma lápide, com os restos mortais de Fenellosa. Tirei fotos e comecei a copiar o que nele estava escrito em inglês, em letras maiúsculas, como segue:

 

THE TOMBS OF ERNEST FRANCISCO

FENELLOSA & WILLIAN STURGIO BIGELOW

 

E. F. FENELLOSA WAS BORN IN SALUN CITY, MASSACHUSETTS, USE, IN 1853 AND WHEN GROWN UP HE ENTERED HAWARD UNIVERSIY, WHERE HE STUDIED PHILOSOPHY.

IN AUGUST, IN THE 11TH YEAR OF THE MEIJI ERA (1897), HE CAME TO JAPAN TO ACCEPT THE CALL FROM TOKYO IMPERIAL UNIVERSITY AND WAS ENGAGED IN TEACHING THERE. AT THE TIME HE WAS 28 YEARS OLD, BEING ONLY A YOUNG SCOLAR.

WITHIN A FEW YEARS AFTER HE CAME TO THIS COUNTRY, HE BEGAN TO TEEL KEEN INTEREST IN OUR CLASSIC PAINTINGS, AND FURTHERMORE, THROUGH HIS STUDIES OF JAPANESE FINE ARTS, HE FOUND THE QUINTESSENCE OF JAPANESE BUDDHISM, AND THUS BEING AFFECTED BY ITS ECSTACY, HE WAS CONVERTED TO DUDDHISM FROM CHISTIANITY.

         THEN HE WAS BAPTISED IN A BUDDHIST CEREMONY BY THE REV. SAKURAI KEITOKU, SUPERIOR OF THE HOMYO-IN TEMPLE, AND CALLED TEISHIN BY RELIGIOUS NAME, ALL THE WHILE HE CONTINUED TO MAKE EFFORTS FOR THE INTRUDUCTION OF JAPANESE FINE ARTS TO THE WORLD AND SO IT MIGHT EAIRLY BE SAID THAT ITS FLOURISHING REPUTATION WE HAVE ACHIVE THERE.

 

Os túmulos de Ernest Francisco

Fenellosa & Willian Sturgio Bigelow

E. F. Fenellosa nasceu em Salun City, Massachusetts, EEUU, em 1853, e quando adulto entrou para a Universidade Haward, onde estudou filosofia.

Em agosto, no 11º ano da Era Meiji (1897), veio ao Japão para aceitar o chamado da Universidade Imperial de Tóquio e lá dedicou-se ao ensino. Tinha na época 28 anos, sendo apenas um jovem escolar.

Anos depois de chegar a este país, manifestou grande interesse por nossas pinturas clássicas e, além disso, através de seus estudos das belas artes japonesas, encontrou a quintessência do budismo japonês e, sendo influenciado por seu entusiasmo, foi convertido do cristianismo ao budismo.

Em cerimônia budista foi batizado pelo rev. Sakurai Keitoku, superior do templo Homyo-in, e chamado pelo nome religioso de Teishin, enquanto continuou a fazer esforços para a introdução das belas artes japonesas ao mundo e, por isso, pode ser fácil reconhecer a reputação que lá alcançamos.

 

Terminada a visita e desejando, no dia seguinte, participar dos festejos em Nara comemorativo dos 1251 anos dela ter sido proclamada primeira capital fixa do Yamato, nome do antigo Japão, dirigi-me à estação e, no caminho, vi na vitrine de uma galeria uma exposição de artesanato da Província de Shiga, inclusive gravuras de atraente colorido impressas em papel artesanal medindo 15x22,2cm, todas elas com um carimbo vermelho de Shozan, nome artístico de MatsuyamaTakahashi, com os ideogramas de pinheiro = matsuæ¾ e montanha = yama = å±±. Adquiri um jogo de dez gravuras com figuras importantes do imaginário das crenças japonesas intituladas Fuji-musume, Za-tou, Ya no ne, Hyo-tan-namazu, Bem-kei, Yari-mochi, Oni no kan-nen-butsu, Taka-shou, Cho-tou-ou e Rai-kou, gravuras que desde 2014 pertencem ao acervo do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo da Universidade Federal de Pelotas.

Voltando a Tokyo, procurei saber quem era que compartilhava espaço no túmulo de Fenellosa. Descobri ser William Sturgis Bigelow (1850-1926), colecionador estadunidense de arte japonesa, que facilitou a apreciação da cultura e da arte japonesa no Ocidente. Viveu no Japão por sete anos, sendo contemporâneo e apoiador de Fenellosa. Formado em medicina pela Universidade Haward (1874) foi condecorado pelo Imperador Meiji, com a Ordem do Sol Nascente, Terceiro Grau. Doou ao Museu de Belas Artes de Boston cerca de 75.000 objetos de arte japonesa, até hoje a maior coleção fora do Japão. Cremado, metade das suas cinzas foram enterradas perto de Fenollosa e a outra metade no jazigo da família Sturgis no Cemitério Mount Auburn, primeiro cemitério-jardim dos Estados Unidos, localizado entre Cambridge e Watertow, em Massachusetts.

A foto do túmulo de Fenellosa tirada em Otsu foi publicada, sem crédito, em jornal de São Paulo, ao lado de artigo de Haroldo de Campos, com rodapé que, por acrescentar novas informações sobre um dos mais festejados orientalistas do século XIX, aqui reproduzo seu final:

 

“Em 1908, encontrando-se em Londres, veio a falecer. Suas cinzas foram transladadas para o templo Mii, de acordo com sua vontade expressa. Ezra Pound foi seu testamentário literário. Tendo publicado os trabalhos deixados por Fenellosa sobre o ideograma e o teatro Nô, além de versões de poemas chineses baseados em suas notas (“Cathay”).”

 

 

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 10Exibido 262 vezesFale com o autor