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Erotico-->25. CONVERSANDO NO CARRO -- 23/04/2003 - 08:08 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Tio e sobrinho saíram do centro um pouco depois de se iniciar uma sessão reservada de desobsessão. Bem que o Doutor José queria presenciar a reunião, mas Ricardo não permitiu, alegando que ele não se manifestara ainda simpático à doutrina espírita nem possuía conhecimentos específicos. Viesse às palestras doutrinárias, quando eram todas as pessoas admitidas, inclusive para os “passes”.

José tinha a vaga noção de que, nas sessões de “passes”, as pessoas recebiam vibrações ou fluidos, mas não conseguia caracterizar o que seriam tais energias ou forças da espiritualidade. Era sobre isso que conversava com Ricardo, enquanto Elvira instruía Juvenal.

No caminho da volta, tiveram a seguinte conversa:

— Tio, o senhor acha possível que as pessoas se tornem espíritos depois que morrem?

— Eu não digo que sim nem que não. Não vejo muito interesse em saber qual o nosso destino depois da morte.

— E se a gente for parar no inferno?

— Que inferno, que nada! Nem céu e muito menos purgatório.

— Então, o senhor não acredita em nada.

— Eu não acredito nessas idéias que metem nas cabeças das crianças, para assustar, e dos adultos, para pagarem o dízimo nas igrejas e templos.

— Quer dizer que o senhor acha que, quando a gente morre, nada do que se fez aqui se reflete do outro lado?

— Veja bem, Juvenal. Tudo que acontece de errado com a gente repercute em dois lugares diferentes: ou na carne ou na mente. Quando é na carne, a gente sente dor. Quando é na mente, a gente sofre uma porção de males puramente metafísicos, vamos dizer assim. E todos estes males se refletem também no corpo. Um filho doente preocupa os pais, principalmente se eles não têm dinheiro para levar a criança ao médico ou para comprar remédio. Uma pessoa abandonada pelo cônjuge é capaz de praticar até um homicídio ou suicídio, quando não as duas coisas juntas. Muita gente sente tanto ódio que perde a saúde. Tenho visto isto a vida toda no escritório.

— Tudo bem que seja assim. Mas a que leva isso?

— É simples. A gente morre e o corpo já não causa mais nenhum mal-estar ao indivíduo. Se existe alma e ela vai para o lugar das almas, vai levar consigo as impressões, a memória, os sentimentos, ou seja, pode continuar com aqueles sofrimentos da mente ou do coração, se você preferir. Neste caso...

— Entendi aonde o senhor quer chegar: a pessoa que está com algum problema mental, quando morre, continua com o mesmo problema. É isso?

— Sim. Para não ter nenhum problema do lado de lá, não tenha nenhum problema do lado de cá. Isto quer dizer que as pessoas que só fazem o bem não têm o que temer. As que prejudicam os outros, caso tenham consciência do mal que praticaram e se arrependerem, vão levar esse sentimento para lá.

— E quem não tem remorso de nada do que faz? Eu vi assassinos dando entrevistas na televisão que diziam que, se os soltassem, matariam de novo. Esses não vão sofrer do lado de lá.

— Não com dores de consciência, mas, se o seu desejo é continuar matando, como é que vão ficar satisfeitos se do lado de lá ninguém morre? Vão ficar perseguindo as sombras de seu passado.

— Quer dizer que não vão ficar tão bem quanto aqueles que levam a consciência tranqüila?

— Segundo a minha maneira de pensar, não.

— E se não existir alma?

— A nossa conversa não terá nenhuma razão de ser.

— Os espíritas dizem que existem almas e que elas vêm conversar com os vivos. Isso é possível ou são as pessoas que inventam?

— Meu caro, se eles inventam ou se elas vêm conversar, eu não acho relevante. Pode ser que eles inventem e que elas não venham conversar. Isto não impede que existam espíritos e que cada um de nós tenha uma alma. Mas aí, em se acreditando na existência das almas, devemos pensar como os católicos e os protestantes, os quais remetem os seus mortos para a beatitude paradisíaca ou a fogueira infernal, para sempre. Você vai ter de esperar que haja uma salvação, se quiser livrar-se das garras dos demônios.

— Estou pensando na Lutécia. Se ela ainda existe, onde o senhor acha que ela está?

— Você quer saber se eu acho que ela foi para o céu?

— O senhor já disse que não acredita em céu, em inferno e em purgatório. Eu quero saber se ela está bem ou se está sofrendo, segundo a sua explicação anterior.

— O que a minha querida sobrinha fez de errado no mundo? Eu desconheço qualquer ato ou pensamento ruim que ela tenha tido. Você sabe de algum?

— Ela estava descontente por tomar conta da casa.

— Nunca notei nada. Ela reclamava com você?

— Ela dizia, às vezes, que gostaria de conviver com as colegas. Mas ela ficou pouco tempo como dona de casa. Eu já estava aceitando a idéia de ela ter colegas, tanto que autorizei alguns a freqüentarem as aulas da Ângela. Meu medo era que acontecesse algo na rua, o que acabou acontecendo.

— Você ficou traumatizado com a morte de seu pai.

— Eu não ia dizer nada, mas vou mandar colocar vidros à prova de balas no carro. Eu não vou ficar sossegado ao sair pelas ruas com esses assassinos à solta.

— Mas se você está achando que a morte acaba com tudo...

— Tio, eu não disse isso.

— Pois as suas perguntas, pelo que entendi, só visavam a minha opinião. Eu acho que você estava querendo que eu confirmasse que só existe o mundo da matéria.

Juvenal não levou a conversa adiante, mesmo porque estavam chegando. José convidou-o a dormir na casa dele, afirmando que aquele prédio enorme estava muito estranho todo apagado.

— Você se sente bem sozinho?

— Nunca tive problema. Eu ligo a televisão, vejo algum programa ou filme. Depois vou dormir, porque agora estou levantando cedo. Tomo meu café na padaria da esquina e vou para a escola. Tudo normal.

— Tome cuidado que os cachorros estão soltos.

— Eu pedi ao Tadeu que não soltasse até que eu voltasse. Mas eu acho que eles não vão me atacar. Boa noite, tio.

— Boa noite, sobrinho.

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