Recordo a mesa com as bandas da alva toalha de linho
Rendada e bordada com folhas e bolinhas de azevinho
Aonde eu passava curioso meus borboletantes deditos
Soerguendo-me então nas pontas dos pés para lograr
Deitar a mãozita num apetitoso biscoito e lesto rapinar
A doçura que extasiava os meus inocentes cinco anitos
Recordo minha mãe atarefada preparando a lauta ceia
E da chegada de meu bom pai carregado de mão cheia
Com lindos embrulhos aonde meus olhos abriam ninho
Ávidos de conhecer que coisas belas traria ele pra mim
Mas por muito que chorasse e choramingasse só enfim
Veria as prendas no dia seguinte sobre meu sapatinho
Recordo os cerimoniosos gestos de minha mãe a servir
As natalícias iguarias que eu mirava e remirava a sorrir
Atraído pela gulodice do menino feliz que vive a sonhar
Natal a Natal pela vida fora até se diluir além do sonho
Obrigado a apreender a realidade do mundo medonho
Para depois entardecer e sem lágrimas tornar a chorar