Quem porventura domine o francês e conheça a canção que Gilbert Bécaud nos deixou
"L Indeférence", um supremo momento de expressiva e autêntica poesia, decerto que se preocupa estremecidamente com a hodierna actualidade que se lhe depara: a indiferença humana tácita campeia.
As pessoas, cada vez com mais receios da criminalidade urbana, fecham-se em si, olham por si e fogem de tudo quanto lhes pareça estranho. As mais incríveis simulações servem para atrair os incautos e surpreendê-los, roubando-os e agredindo-os.
A política de segurança pública está uma lástima em Portugal, no Brasil, onde quer que os quotidianos trepidem de movimento. Estamos em época em que a escuridão é sempre mais segura do que a luz.
Valha-me a Poesia e o Movimento se um dia algo me acontece no meio da estranha multidão. Valha-me um inimigo que vá a passar e me conheça. Por isso mesmo e nesta vertente, prefiro a solidariedade do inimigo.
O inimigo é humano, sabiam? De grandes inimigos se fazem grandes amigos. O preceito dá para rir e chorar, pois dá? Mas é verdadeiro e real, bem melhor, muito melhor do que a hidra tácita da indiferença a fingir humanidade.