Achados de Repente V
Paulo Nunes Batista*
Pediram a Domingos Fonseca,m cantador do Piauí, que cantava com Siqueira de Amorim, do Ceará, que fizesse a diferença entre a Mãe de Jesus e a mãe de Judas. E ele cantou:
Toda mãe, pelo seu filho,
Se iguala meus só amor.
A mãe de Cristo e a de Judas
Sofreram da mesma dor:
Uma, pelo filho Justo ,
Outra, pelo pecador.
Um cantador chegou na casa do outro, jantou e d epois foram cantar. O da casa, na cantoria, alegrou que o outro estava morto de fome e elelhe deu comida. O outro respondeu na bucha:
Eu comi na tua casa
Um tal de feijão macaca,
Frio, feio e fedorento,
Muito sem gosto e sem graça
E, se for por causa disto,
Eu pago aquela desgraça.
Lourival Batista cantava em Brasília com Lourival Bandeira, na Torre de Televisão. Chegou a baiana do acarajé e armou seu ganha-pão. Mas, muito gorda e bunduda, ao sentar-se no banquinho, este quebrou-se com ela. Batista improvisou:
Tava tudo muito bem,
Indo no melhor dos mundos,
Mas cada coisa acontece
Em menos de dois segundos,
Que vi um banco quebrar-se
Só por excesso de fundos.
A verve, a criatividade, a presença de espírito do repentista nordestino é inigualável. Numa roda de glosadores, de cantadores de viola ou de emboladores de coco sai cada achado poético de deixar a gente besta.
Tentei mostrar a ligeireza do repentista nesta quadra:
O verso brota da boca
Como água nasce do chão:
De repente vem e espoca
Na asa da improvisação.
(*) é poeta, cordelista, repentista, compositor, jornalista e escritor paraibano, radicado há mais de 50 anos em Anápolis- Goiás.
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