agora que tenho quarenta,
seduzem-me amoras, pitangas,
sabores rubros do meu quintal.
encurtei a saia,
perfume novo,
ando descalça
e um calor a me inquietar.
sossega, mulher, sossega.
são quarenta,
hora do siso,
juízo,
horas mansas,
hora do chá.
mas que nada,
se a noite é fria, o vinho é tinto
e o olho é negro a me desnudar.
sai, menino, sai,
que sou senhora,
tenho quarenta.
não cante assim,
que sei de mim e sei de lá.
vai devorar a quem?
a mim, não,
que tenho quarenta
e todos dizem:
hora de aquietar.
agora que tenho quarenta,
voltei ao verso, ao riso.
ando querendo o que, meu deus?
faço velas e quando vejo:
vermelhas.
porra, mulher,
faz vela rosinha, verde claro,
que são cores doces,
apropriadas pra se rezar.
agora que tenho quarenta,
ai, jesus, o que faço?
ando querendo me espoletar.
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