Estando certa vez num restaurante (SUPERBOM, no viaduto Nove de Julho(SP)
Veio um senhor sentar-se à mesma mesa
Iniciando-se naquele instante
Um diálogo de ímpar natureza
Não me recordo bem por que razão
Se trouxe para tema a Humanidade
Ganhando a prosa forma e dimensão
Próprias a algo de tal densidade
Ouvindo-me atento, curioso
Aquele companheiro inesperado
Levou-me a avançar, pretensioso
Professoral até, no enunciado:
“Eu vejo que seguimos circulantes
Por cônica espiral, em ascensão
E tudo se repete como antes
Mas numa afunilante projeção
Desejos, aflições, crenças, receios...
Tudo isto carregamos na subida
Que ora são fardos, ora são esteios
Segundo as conjunturas numa vida
O Criador é o eixo da espiral
A que vão ter os mais evoluídos
Deixando para trás, noutro final
Os réprobos, os vis, os decaídos
De sorte que a própria experiência
De cada qual lhe dá a dimensão
Na base nos impele a inocência
Acima àlguns refreia a devoção”
Ao me calar, ouço de quem me ouvia:
"Sua tese é de São Tomás de Aquino
Na USP, leciono teologia
E lá filosofia ainda ensino
São temas por que tenho grande apreço
E não só eu,também minha mulher
Anote, por favor, meu endereço
E apareça lá quando quiser”
Mesmo alcançando o gesto na grandeza
Da importância ali pra mim contida
Achei-me aquém de tal delicadeza
Foi mais um erro que somei na vida...
Por não submeter meu postulado
Ao crivo de um perito em teologia,
Fiz concessões demais a alguém amado
Que professava outra teoria.
Faltou-me perceber que o pretendido
Fenece ao aninhar-se na ilusão
Já que esta, se preserva o sentido
Inverte, sempre e sempre, a direção
Perdem o rumo e afastam-se do centro
Os que enleiam fé com fanatismo.
Procuram fora aquilo que está dentro
Buscando o céu, despencam num abismo
Na espiralada evolução da vida
Tal como a pude imaginar um dia
Constato que há, mas há mais invertida
A Forma cônica em que se irradia
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