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Poesias-->Livro Urbano das Horas -- 16/11/2003 - 00:46 (José Ricardo da Hora Vidal) |
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Seis horas da manhã
A lua ainda não deitou
E a cidade furiosa já abre os primeiros olhos.
Sete horas da manhã
E o galo já acordou o sol.
As padarias estão vazias
Após terem vendido pão, biscoito, leite e trabalho.
A cidade sibila freneticamente
E os carros lentamente correm para o trabalho.
Oito horas da manhã
Todos os ônibus trafegam ilógicos
Nos vasos sanguíneos da urbe monstruosa.
O dióxido de carbono recobre o horizonte
E as redações estão cheias de motícias.
Nove horas da manhã
E as lojas estão grávidas de consumidores.
Os Office-boys passeiam pelo centro
E as filas cruzam as fronteiras.
Dez horas da manhã
E os restaurantes são fornalhas
produzindo alimento para turba faminta.
Cuidado, pardalzinho!A cidade tem fome!
Onze horas da manhã
E ondas humanas quebram-se
Na falésia de concreto e aço.
As estações atiram seus ônibus pelas ruas
Como uma metralhadora sedenta de velocidade.
Meia dia e meia
O sol a pino frita a metrópole,
Que digere seus habitantes
Com loucura, colesterol e estafa.
Desejos libidinosos povoam
O santo repouso das refeiçõs.
Uma horas da tarde
A loucura recomeça com estômagos
Diglutindo uma última gastrite.
Um corpo infartado na rua não
Comove mais a telerepórter da tarde.
Duas horas da tarde
Vai, turba insana das metrópols!
Esmaga-te nas viraças inúteis do escritório!
Três horas da tarde
A cidade não para,
O tempo não para,
O dinheiro não para,
A solidão esmaga.
Quatro horas da tarde
As fábricas em curto-circuito
Aliena seus escravos operários,
Que não percebem o arco-íris
Nascido no céu após a garoa.
Cinco horas da tarde
Corre, manada de robôs,
Corre para seus estábulos.
Seis horas da tarde
O sol bate seu ponto de turno
Para entregar os desejos à Lua.
O carrossel de luzs no Centro
Recora que a cidade continua faminta.
A cidade não para!
O tempo não para!
O dinheiro não para!
Sete horas da noite
E os jornais lutam para fechar
A próxima edição.
O amanhã é ontem
E o tempo é agora.
Oito horas da noite
E os apertamentos estão ligados na TV.
Os bares estão repletos de almas vazias
E os vampiros passeiam à paisana
Nos escritórios, a procura de mais fortuna.
Nove horas da noite
As ruas residenciais começam a serenar.
As ruas boêmias começam a fervilhar.
Nos hospitais em plantão esperam hieráticos
A próxima catástrofe, alheios a tragéida
Diária da vida humana.
Dez horas da noite
Os comboios de ônibus serpentiam
Em direção das garagens para dormir.
A viatura policial passeia como um anjo noturno
Espada não mãos, guarda as ruas
Para pressão nossa de cada dia
Onze horas da noite
Os últimos boêmios esperam pela madrugada.
A metrópole dorme mecânicamente
E os sonhardores ainda não acordamos para o dia.
A cidade não para!
O tempo não para!
O dinheiro não para!
E a morte espera.
Meia noite
Longe da fumaça e da loucura,
As fadas e duendes, ninfas e sátiros
Vivem a vida alegremente,
Longe da necrópole de concreto das cidades
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