Todo aquele que atormenta
A vida de seu irmão
Poderá ser combatido
Com prece, amor e perdão.
Sinto muito, caro amigo,
Não ter muito o que escrever.;
Não vá zangar-se comigo:
Me abrace com bem-querer.
Parecemos meio zonzos,
Quando estamos a escrever.;
As portas guincham nos gonzos:
Cuidados devemos ter.
Às vezes, não declaramos
As palavras que queremos:
Irá caber ao irmão
Botar mais força nos remos.
Evitemos, finalmente,
Repetir os mesmos versos,
Embora esteja o escrevente
Sabendo sermos perversos.
— “Cada macaco em seu galho” —,
Diz um refrão popular.;
Faço papel de espantalho:
É todinho esse o meu ar.
Hoje não temos história
Que aqui possamos contar.;
Fiquemos só na vanglória,
Pois queremos agradar
Se não contarmos as sílabas,
Acabaremos falhando.;
Por isso, recomendamos
Que este amigo vá contando.
Sentimos certo cansaço,
No coração do amiguinho,
Mas pedimos um espaço,
P’ra nos dar algum carinho.
Tenho nervos feitos de aço,
Meu sangue corre fervente,
Escrevo este calhamaço,
Dou trabalho ao escrevente.
Alguns vão pensar que estamos
A perder tempo, somente,
Mas a verdade é que vamos
Treinando nosso escrevente.
É preciso ter paciência,
Completar o aprendizado.;
Nesse caso a obediência
Jamais ficará de lado.
Nossas quadras se acumulam,
Mesmo não sendo perfeitas.;
São palavras que se anulam,
Mas deixam as quadras feitas.
Às vezes, titubeamos,
Ao ditar alguns versinhos,
Mas, quando nós fraquejamos,
São-nos dados mais carinhos.
Relevem os bons irmãos
A total falta de jeito:
Estendamos nossas mãos,
Juntemos peito com peito.
Em sinal de caridade,
Nos enviem um sorriso.;
Choraremos de saudade,
Quando tivermos mais siso.
Vamos ter de comentar
A falta da força elétrica.;
Fosse datilografar,
A coisa estaria tétrica.
Por pouco não despejamos
Nossos confrades daqui,
Mas, como somos bons amos,
Não folgamos o Wladi.
Dona Poética esteve
Fortemente ameaçada,
Mas lhe pedimos licença
E nos disse: — “Não é nada!...”
Gracejemos um pouquinho,
Que a estrofe fique humorada.;
Mas façamos com carinho,
Não vá ficar consternada:
Poética, de mansinho,
Vai terminar agradada.
Pode parecer ao moço
Que a nossa trova se perde,
Que é só carne de pescoço,
Que é rima que não se herde.
Vou dizer uma verdade,
P’ra terminar este dia:
Não é com contrariedade
Que rimamos a poesia.
Fica o jovem satisfeito
E, mais satisfeito ainda,
Por tratá-lo com respeito,
Fazendo uma estrofe linda.
Faltam só estas três linhas,
P’ra terminarmos a folha:
Vou refazer as continhas,
P’ra melhorar nossa escolha.
Abrimos uma outra página,
Muito cheios de esperança,
Mas se a rima não se “imágina”,
Vou perder a contradança...
Queremos, porém, fazer
De nossos versos promessa:
O que temos p’ra dizer
É muito bom, bom à beça...
Quem nos quiser esquecer
Vá trocar sua cabeça,
Pois não há o que fazer,
P’ra que a lei não permaneça.
Parecem tolos os versos,
De conceitos não há nada,
Mas, por não sermos perversos,
Aceitamos a parada.
Qualquer dia um outro grupo
Virá dizer a que veio.;
Se o daqui recebe apupo,
Que aquele não faça feio.
Fica alegre o escrevente
Mas se sente apalermado,
E nos roga, simplesmente,
P’ra deixá-lo sossegado.
Após as trinta quadrinhas,
Ele vai ser atendido,
Embora nos falte um tema
Para ser desenvolvido:
Amanhã é outro dia,
Para a prosa e p’ra poesia.
Vamos deixar de fazer
A despedida usual,
Pois o final pode ser
Nosso assunto principal.
Adeus, caríssimo irmão,
Volte ao regaço dos seus,
Mas peça, de coração,
Bênçãos ao nosso bom Deus!
|