Estavas do outro lado,
Sentada àquela mesa,
O olhar distante.
Triste parecias.
Nada afetava a tua beleza.
O barulho à tua volta
Era como se não existisse.
Pensando em quê estarias?
Nos problemas, nas crianças?
Ou estarias sonhando,
Teu próprio mundo criando?
Não quis perturbar o teu sonho,
Melhor deixar sonhar sozinha.
Crianças a correr, a brincar,
Pulando, sorrindo, gritando.
As tuas crianças, as minhas.
Me deu vontade de estar
Entre elas partilhando
A infância que já vai longe,
De te ver, de me ver brincar.
Os brinquedos eram outros,
Os tempos eram outros
Mas o prazer era o mesmo.
O carrocel a girar...
Não havia naves espaciais,
Carros ou dinossauros,
Apenas os cavalinhos
Subindo e descendo a galopar.
E o carrocel a rodar...
Meu olhar distante também
Se perdeu na multidão
De anônimos a passar,
Num vai-e-vem incessante,
Abrindo e fechando janelas.
Olhava para tudo e nada via,
Exceto o teu rosto na multidão,
Entre as janelas que passavam.
De repente, nada mais havia,
A não ser nossos olhares
Que se cruzaram por um instante.
Não sei quanto tempo durou.
O barulho, a multidão, o carrocel,
O tempo, as crianças, tudo parou.
Me vejo em pé, caminhando
Devagar, em tua direção...
As crianças que brincavam
As pessoas que passavam
As janelas que se fechavam
E eu te perdia na multidão. |