Eu descendo dos Medeiros,
Vim das Ilhas dos Açores,
Nas minhas veias escorre
O sangue dos lutadores.
Enfrentamos invasores
Mesmo em desigualdade...
Pra manter a liberdade,
O mais vital ar da vida,
Dispomo-nos a enfrentar
A barbárie do além-mar
Numa luta fraticida.
Sou das Ilhas dos Açores,
Tenho o sangue dos Medeiros
Herdamos a impaciência
Dos ciganos aventureiros.
Pelos rincões brasileiros,
Tendo nos sonhos proventos,
Montamos acampamentos,
Rasgamos o seio da terra
Pra plantar do vale à serra
Os próprios coroamentos.
Nós, das ilhas açorianas,
Vimos parar no Nordeste,
De Sebastião e Rodrigo,
Dois irmãos “cabra da peste”.
Independente de teste,
O primeiro, sem fantasia,
Fixou-se em Santa Luzia,
Paraíba, com a missão
De transformar o rincão
No seu sonho de utopia.
Rodrigo se deslocou
Pra o seridó potiguar,
Tendo semente de sonhos
Se pôs ali a plantar.
Com Medeiros a semear
Foi colhendo povoação
E após fincar seu brasão
Com a honra de um guerreiro
Foi desfraldando altaneiro
Pelas brenhas do sertão.
Foi em mil e setecentos
Que deixamos os Açores
Levando nossas saudades,
No peito muitos amores.
Fizemo-nos desbravadores
Pisando as restas da morte,
Mas, no trabalho tão forte,
Com destemor, muita luta,
Transformamos terra bruta
Na “Paraíba do Norte”.
Dos ancestrais, pelas veias
Corre no sangue a imagem
Bem forte dessas raízes...
Porém, pra tê-la, quem há-de?
Tudo se esvai em saudade.
Contenta-me o estandarte
E os desejos de uma arte
Pra, me pondo ante o passado,
Com um bandolim e um fado,
Poder, um dia, abraçar-te!
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