Anatomicamente perfeito, o jovem impunha a todos a sua personalidade forte, sem sedução melíflua, porque seu poder natural de atração era o que o caracterizava melhor.
Juvenal triunfava entre os colegas e, aos dezoito anos de idade, tornara-se o ídolo, o líder, o pujante archote das causas da rapaziada do bairro. Razão maior para ser temido, porque chefiava uma “gang” de malfeitores que assustava a população mais velha e economicamente estabelecida.
De dia, ficava em casa, não permitindo jamais que ninguém viesse perturbá-lo. Dizia ao grupo:
— Vocês já contam comigo das dez da noite às quatro da madrugada. Que isso lhes baste.
Juvenal juntava ao poder físico um brilho intelectual que transparecia no extenso vocabulário e na estrutura lingüística diferenciada da gíria rotineira dos companheiros. É que, ao contrário do que se poderia imaginar, estudava nas obras que seu pai juntara ao longo de uma vida inteira dedicada ao ensino jurídico.
Outro ponto que impressionava os comandados era que ele jamais cedera aos vícios, embora comandasse o comércio das drogas e mantivesse um ponto de fumo freqüentado por pessoas de diversas extrações sociais, vigiando para que tudo transcorresse na mais perfeita ordem, uma vez que todo o bando tinha o que lucrar com a atividade ilegal.
Eis, em rápidas pinceladas, a nossa personagem principal. Alguns traços mais e teríamos de desfazer a impressão de que sua empresa se disciplinava pelo império de uma estrutura equilibrada tão-só no poder da inteligência. Não passava uma só semana que não se precisava eliminar alguém que se arvorasse em possível pretendente a abocanhar parcelas de seus domínios.
Quando necessário para a manutenção do tráfico, não hesitava em ir pessoalmente, comandando um bem montado contingente armado, para a “limpeza” dos setores afetados, sempre desfazendo-se das vítimas em pontos estratégicos, para não incitar a curiosidade da força policial.
