Usina de Letras
Usina de Letras
126 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50618)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140802)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->História, histórias... -- 11/10/2000 - 20:46 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
[Texto escrito originalmente para o jornal Tribuna Impressa, de Araraquara, uma das muitas cidades brasileiras onde o PT acaba de chegar à prefeitura e onde a renovação da Câmara Municipal se deu de forma total e inesperada. Embora fale especificamente de Araraquara, o meu artigo é sobre este momento político que estamos vivendo em âmbito nacional, esta mudança que se desenha e que promete ultrapassar em muito as nossas previsões mais otimistas. Uma reflexão sobre a oportunidade da mudança que a História agora nos põe nas mãos.]





Acabo de conversar ao telefone com a jornalista Patrícia Piquera, do jornal Tribuna Impressa de Araraquara. Razão total ao que ela me diz sobre o momento que estamos vivendo. Cada um de nós, no seu fazer, tem a obrigação de trabalhar, e muito, para que dê certo, para que a cidade dê certo.

Sim, para que a cidade de Araraquara, finalmente, possa se libertar dos falsos pressupostos políticos que a desorientavam. Para que façamos jús – mais do que nunca é hora de aprendermos a falar no plural – à tarefa, enorme, imensa, que a História agora nos põe nas mãos. E todos nós sabemos muito bem que não foi por acaso e que nem foi de repente. Portanto, razão total às palavras da jornalista ao telefone.

Vamos fazer, cada um de nós, a nossa parte, para que a cidade se encontre.

Auspiciosa a notícia da criação de uma Secretaria da Cultura e de uma Secretaria de Turismo, por exemplo, na primeira aparição, convincentíssima, de Sérgio Médice como vice-prefeito eleito.

Tempo demais já foi gasto em contendas que só têm passado. E, diga-se mais, passado que nunca foi promissor. Só eu, que sou forasteiro, já observo com assombro, há coisa de já mais de quinze anos, esse movimento pendular do nada para coisa nenhuma, a vida cultural loteada entre duas partes conflagradas (e nunca inteira e devidamente identificadas) para todo o sempre e, o que é pior, sem a menor chance de chegarem a alguma lucidez ou resultado.

Mas, mesmo assim, as coisas foram se fazendo, cada um de nós, no seu espaço de atuação, não deixou, por isso, e nem seria razoável, de construir um pedacinho que fosse das suas crenças e esperanças em algum futuro.

Ei-lo, agora, à nossa frente. Imagino como seria fantástico saber que as palavras da jornalista Patrícia Piquera traduzem os sentimentos e anseios da maioria de nós, a nossa clara decisão de fazer cada qual a sua parte para que a cidade se encontre.

Na minha memória de muito muito antes de aqui ter aportado – e, devo dizer, muito muito bem recebido – guardo a visão clara de uma cidade que eu até achava fosse muito maior do que na verdade é, em termos populacionais e geográficos, tal a grandeza com que a concebia na adolescência. As notícias que me chegavam daqui tinham a ver, por exemplo, com os tempos áureos da imbatível Ferroviária. As imagens que me chegaram primeiro, pela televisão, me fizeram supor uma cidade moderna, vibrante, com viadutos, a infraestrutura invejável que ela realmente pode ostentar, mas, sobretudo, uma cidade capaz de gerar alguns dos ícones da minha formação cultural e artística, como Zé Celso, Luis Antonio, João, Lala e Ana Maria Martinez Correa, para falar apenas de alguns dos araraquarenses que conheci e com quem convivi antes de aqui estar, mais a Arani e alguns outros. Trazia na memória nomes como Ignácio de Loyola Brandão. Trazia ainda a quase lenda de uma cidade que já tivera a honra de hospedar Sartre e Simone de Beauvoir. Trazia também o próprio motivo da minha vinda, por aqui estar sediada um dos campus da UNESP. Na Faculdade de Ciências e Letras, perdurava para mim a memória de um das pessoas mais grandiosas que conheci na vida universitária, a professora Wilma Rodrigues. Aqui vim a reencontrar um dos nossos gurus dos anos 60, o Uilcon Pereira, de quem a universidade tão prontamente, por razões mais do que óbvias, tratou de se desvencilhar. Enfim, foram muitas as razões que contribuiram para que eu aqui viesse ter, imbuído das mais otimistas previsões para o seu futuro de cidade, para o nosso futuro de cidadãos, não apenas araraquarenses, mas do mundo.

Hoje, não terminaria mais a lista das grandezas, dos talentos que aqui vivem, produzem e esperam pela concretização dos seus mais altos ideais.

Hoje eu teria de dizer que Araraquara é a cidade da dança, por exemplo. Que Araraquara é a cidade de Gilsamara Moura e do Grupo Gestus, fazendo aquilo que, em outros tempos, o teatro aqui fez. O espetáculo “Perfil Transitório” já deveria estar sendo exportado para todos os quadrantes, como o que de melhor possuímos e temos a obrigação de mostrar. Um espetáculo que chegaria em qualquer cidade brasileira com o recado muito claro: eis aqui o nosso resultado, nós somos a cidade de Araraquara, que pode se orgulhar de trabalhos como este, vejam como somos, vejam como podemos, sim, produzir arte e cultura, em alto estilo, a partir da nossa cidade; vejam como somos capazes e como nos orgulhamos de sermos capazes.

Hoje eu teria de lembrar a todos o quanto eu devo ser grato. Aqui me foi possível fazer coisas antes inimagináveis. Foram alguns artistas e pessoas sensíveis, daqui, que me levaram a produzir aquilo que me foi dado produzir, a obter os resultados que inegavelmente vim a obter. Também não podemos perder mais tempo com vaidades, com pretensões. Vamos aos fatos. As últimas eleições mostraram que já não vai mais ser possível atropelar os fatos com a mesma facilidade de antes. É chegado o momento de olhar com clareza para eles. São tão evidentes. Tão inegáveis. É chegado - e por que não também? - o momento de celebrar as nossas virtualidades. Já faz tempo que eu sei, que muitos de vocês, que nós juntos sabemos das nossas potencialidades. Sempre achei difícil explicar aos outros forasteiros a razão para a cidade não ser aquilo que ela inegavelmente é. Posso dizer que a conheço muito profundamente, na convivência que cultivei com um número espantoso de pessoas produzindo suas histórias, suas artes, suas artimanhas, procurando fugir a esse anonimato a que nos empurram as forças reacionárias.

Os mistérios? Sim, deixemos para trás, e definitivamente, os dolorosos. Vamos ao gozo, ao prazer da cidadania, ao fazer. Vamos deixar que a cidade seja, que sejamos, todos, juntos.

Razão total à jornalista Patrícia Piquera. Cada um de nós, no seu espaço de atuação, tem agora a ocasião, tão intensamente esperada, de poder mostrar que é possível.

Enquanto me dedicava à Rádio Ativa FM do Selmi Dei, um dos momentos de que mais me envaideço ao longo da minha trajetória, costumava receber recados que me punham sempre como "aquele cara do PT". A verdade é que nunca me fiz partidário. A minha simpatia, parece que ela sempre ficou evidente, se mostrou muito mais numa prática afinada com os princípios da cidadania. Juntamente com Henrique Punk, fiz a cobertura das sessões da Câmara Municipal ao longo de um semestre em 97. Desde então, para mim, como para tantos, era evidente, considerando-se a atuação do vereador Edinho Silva, algo estava para acontecer. A último vez que o vi, no Tropical Shopping, era ainda o início da campanha, trocamos impressões rápidas apenas sobre os primeiros sinais de que ia ser isso mesmo.

Num dos nossos encontros, nos tempos da Rádio Ativa, ele me perguntava se eu tinha a dimensão daquilo que eu, então, estava realizando na cidade. Concluí que não, no que me dizia respeito, mas também pude concluir que ele sabia exatamente o que estava construindo.

Pela gratidão que devo à cidade, só posso dizer que ela já fazia por merecer essa chance de viver uma grande mudança. Não sei se tantas outras cidades tiveram a felicidade de dispor de um cidadão dessa qualidade e com esse preparo para assumi-la.

Antenas ligadas, trabalho e muita sensibilidade para o momento que, repito, a História hoje nos põe nas mãos. Não pretendia, se é que o fiz, me mostrar eufórico, apenas queria dizer que vejo as coisas todas acontecendo, o que é muito auspicioso para quem, como eu, já não vê nenhum caminho mais aberto para a vida nas nossas universidades públicas. Quem sabe, então, se, a partir de agora, nos exercitássemos mais naquilo que pomposamente se chama “extensão universitária”. E pode ser que ela agora, finalmente, como sempre deveria ter sido, possa ter ida e volta. A nossa soberba construiu essa retórica oca, de que a universidade é que dispõe do saber e pode distribui-lo, generosa e condescentemente.

Digamos que, em certo sentido, o momento que agora se desenha foi projetado, historicamente, dentro das universidades. Mas, para nossa tragédia, não soubemos escapar à tentação de imitar, dentro delas, o que havia de pior em nossa tradição política. Vamos fazer como o Edinho, na tenacidade e na dedicação com que sempre atuou e construiu os alicerces para esta sua ascensão política. Vamos fazer como tantos outros, que, para além das suas prerrogativas universitárias, sempre souberam estender a sua ação para a comunidade onde vivem, tanto aqui como nos outros tantos lugares onde se desenha a mudança. E acho que poderíamos pensá-los como sendo uma representação de nós mesmos, pela primeira vez, no verdadeiro sentido dessa palavra, num momento de rara lucidez e de tantas certezas.

Eu ia falar de promessas, mas me lembrei de um outdoor que vi durante toda a campanha em algum ponto da Via Expressa: não acredite em promessas, algo assim, mas naqueles que apresentam propostas. Ficou bem claro, não é tanta gente mais que acredita em promessas, aqui e alhures. Melhor assim.

Quero falar em milagres, mas no sentido em que a compreendo e que me levou a escrever um poema, recentemente publicado num site literário: milagres a gente faz, eles não acontecem.

Vamos aos fatos. Vamos ao trabalho. Vamos à História. Estejamos à altura deste momento.

E, já começando a fazer a minha parte, tratei de deixar de lado os meus pudores, que já não eram tantos, para falar assim com a mais transparente franqueza. No que isso tem de patético, paciência. No que possa ter de equivocado, só o tempo nos dirá. Agora teremos de pagar o preço da cidadania. Eu só posso concluir que a maior parte de nós se decidiu por isso. Razão total à jornalista Patrícia Piquera. Um abraço aos atores da cena política. Que os derrotados saibam aprender com a sua (suposta apenas) derrota. Que os vencedores não descansem na sua (suposta apenas) vitória, não se percam em comemorações.

Que cada um de nós lance mãos à obra. Vamos provar que é mesmo possível construir a nossa História, mas que ela seja (cuidemos bem disso) verdadeiramente uma construção a partir das nossas mil muitas histórias individuais.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui