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Teses_Monologos-->Da jukebox à vitrola de ficha (1) -- 10/09/2002 - 02:00 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Enredo espetacular: na cabeça do tradutor, seqüências de filmes do cinema novo alemão, particularmente dos road-movies de Wim Wenders, confundem-se com a extensa cartografia do escritor austríaco Peter Handke, até desaguar, em plena Baixada Fluminense, na voz de Zeca Pagodinho

No pós-guerra, a Europa ocidental recebeu uma extensa lista de itens culturais de efeito avassalador: rock’n roll, bad boys, cowboys, blusões de couro, t-shirts, carrões, motocicletas e, principalmente, a televisão. O mundo dos objetos pipocava em cada esquina.

Quanto à jukebox, tendo-lhe adotado o uso incondicional e o kit(sch) correspondente em seu cotidiano e comportamento, os europeus não souberam como batizá-la em seus idiomas. Símbolo pop por excelência, nos filmes de Wenders e nas narrativas de Handke, a jukebox surge quase como um personagem.

Mediante a inserção de fichas, ela desfiava o repertório beat típico dos anos 60 e 70, que incluía "Satisfaction" [Rolling Stones], "Like a Rolling Stone" [Bob Dylan], "Light my fire" [Doors], "The house of the rising sun" [The Animals], Beatles, Mariane Faithfull, Credence Clearwater Revival e os Kinks, a dividir espaço com o mais desbragado kitsch alemão: o "tiroleite" tirolês, bandinhas de Oktoberfest, baladas românticas, oldies & goldies, folias brejeiras folk & country, um mariacchi ruidoso aqui, um Ari Barroso acolá, una paloma blanca, uma mulé rendêra, uma Canzone per te na voz de um brasileiro tido como o Elvis latino-americano.

Nos anos 80, Handke escreveria uma narrativa chamada "Ensaio sobre a jukebox". De uma aldeia perdida ao norte da Espanha, atônito, o narrador assiste na TV à queda do Muro de Berlim. Pensava que fosse a realização do desejo utópico de um telespectador qualquer. Distante dos acontecimentos centrais, ele percorre aldeias perdidas, redutos caídos para fora da História, em busca da sua história pessoal, que se confunde com a de um dos objetos do seu mundo pop, a jukebox.

Desde que traduzi "O medo do goleiro diante do pênalti", a primeira narrativa longa de Handke, passei a tropeçar na palavra inglesa que dá nome a esses aparelhos. Conhecia-os do meu flanar pela Alemanha e outros países da Europa central. Mas cá, entre nós, o que é mesmo uma jukebox?

Em Handke, vemos surgir, às vezes, uma variante: music box. Mas caixinha de música é o símbolo de uma outra cultura, de uma outra época.
Em Araraquara, onde há 17 anos cumpro uma existência de forasteiro, cheguei a conhecer uma. A única que havia? Ficava num dos botecos de um dos pedaços menos conceituados na cidade, num dos últimos redutos genuinamente boêmios que a cidade conheceu, entre os resquícios de uma vida que medrava ao longo das linhas e das estações ferroviárias.

Mas as vias férreas caíram em desuso. Por muito pouco, não desaparecem.

[continua]

_________________________

[Esta série é a reescritura de um ensaio já publicado no site: "Da tradução: da jukebox à vitrola de ficha". Para adaptar o texto ao formato da coluna OXOUZINE, que publico às quartas-feiras no jornal Tribuna Impressa de Araraquara, foi necessário dividi-lo em capítulos.]
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