A sombra se precipita, queima a pele
Com dedos sem toque, reflexo do vácuo
As linhas do horizonte se fundem
Na lava penetrante do ocaso
Ruídos dispersos, imagens vãs
Perfuram o tecido da memória
Paraísos encobertos, campos fluidos
O todo, uma partícula, o nada, um oceano
O gotejar nas correntes, uma por uma
Despertam o pó de eras ermas
Miragens espectrais, anjos feridos
Tentariam escapar ao abismo?
Libertar ou submergir, a aflição
Quando se tornam salgadas as veias
Estradas cegas, prisões sem muros
Há saída – se há – já foi fechada
A fúria sem ímpeto, o vento sem ar
Indecisão é o seu nome, faz-se presente
Morrer? Amar? Viver? Chorar?
Lançados os dados, a consciência se retira
Despencar girando num ar inexistente
Entregar e se perder, fluir, ser
Pleno navegar do infinito, onde o tempo
É o direito de matar seus medos
De repente, rompe-se a harmonia no caos
Luzes súbitas, o chamado dos sentidos
O ir e vir dos dias, aniquilador da liberdade,
Vem recolocar no trono a razão exilada
Haverá ainda chance para o sonho
Em meio a uma existência sem cor?
Tarde demais para o lamento
Errante sem remendo
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