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Artigos-->Olhares sobre o Marrocos , ا¬ل¬م¬غ¬ž -- 14/12/2018 - 00:50 (Luciana Marino do Nascimento) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Olhares sobre o Marrocos , &
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1576;, al-Maghrib, a terra do sol Poente.



Luciana Marino do Nascimento



Para Zidelkhein Naoufal,

Leitor de muitas cidades ao redor do mundo,

que voa com arte, superando turbulências.



As mais variadas imagens que se faz de terras e gentes sofrem influência do imaginário e dos diversos discursos que circulam, sejam eles midiáticos, políticos, históricos, artísticos ou econômicos. Assim se pode observar quando se trata das imagens do Oriente veiculadas no Ocidente. Conforme assinala o escritor argentino Jorge Luis Borges, a noção de Oriente como conhecemos foi uma criação do Ocidente, ou seja, é algo, que não se conceitua, mas se sente no íntimo:



¿Y cómo definir al Oriente, no el Oriente real, que no existe? Yo diría que las nociones de Oriente y Occidente son generalizaciones pero que ningún individuo se siente oriental. Supongo que un hombre se siente persa, se siente hindú, se siente malayo, pero no oriental. Del mismo modo, nadie se siente latinoamericano: nos sentimos argentinos, chilenos, orientales (uruguayos). No importa, el concepto no existe. ¿Cuál es su base? Es ante todo la de un mundo de extremos en el cual las personas son o muy desdichadas o muy felices, muy ricas o muy pobres. Un mundo de reyes, de reyes que no tienen por qué explicar lo que hacen. De reyes que son, digamos, irresponsables como dioses. (BORGES, 1980, p. 23.)



Para Borges, As Mil e uma noites não terminaram e o Oriente fantasmagórico não tem uma existência concreta, sendo produto do imaginário e reverberações das maravilhas narradas em As mil e uma noites. Vale ressaltar que as imagens do Oriente, de modo geral, vêm sempre associadas à violência, ao terror, à opressão feminina, bem como ao mistério, à sensualidade das odaliscas, aos oásis em meio ao deserto, ao luxo, à beleza de Cleópatra.

No mais das vezes são imagens que misturam diversas culturas, de diversos países, que se convencionou a chamar de Arábias ou Oriente Médio, mas, que não correspondem à divisão geográfica, cultural e/ou regional praticada pelos mais diversos países de língua árabe, ou seja, como bem afirmou Edward Said (1990), “o Oriente é uma invenção do Ocidente.”

As mil e uma noites constitui, segundo Nascimento (2001), a tradicional narrativa da literatura árabe, que foi divulgada através da tradução de Antoine Galland e também por meio dos livros infantis, como “Simbad, o marujo”, “Aladim e a lâmpada maravilhosa”, “O pescador e o gênio”, “O mercador e o gênio”, “Ali Babá e os quarenta ladrões” etc. “A narrativa das mil e uma noites, originariamente deriva de lendas consagradas nas tradições orais da Índia, da Pérsia e, possivelmente, de outras regiões, como o Egito, a China, ou seja, de terras que comumente ficaram conhecidas como Oriente ou Arábia.” (NASCIMENTO, 2001, p. 12).

As histórias das Mil e uma noites estão vinculadas à oralidade e ao conto, cuja origem é do latim – comentum, possuindo o significado de invenção, ficção, o que vem a estabelecer relações com o verbo contueor, eris , que é o contemplar, ver, olhar. Como se pode observar, com fundamento nas narrativas orais populares, nos parece que esse imaginário acerca do Oriente está pautado na oralidade dessas narrativas e também na força das imagens produzidas pela indústria cinematográfica. Ortunes e Gaffo, em artigo intitulado Hollywood e o mundo árabe assinalam que mesmo em um contexto de globalização, momento em que ocorre uma abertura para o conhecimento sobre a cultura do outro, as imagens desse outro ainda são “representações impregnadas de preconceitos, generalizações e distorções de uma determinada cultura.” (ORTUNES e GAFFO, 2013, p. 23).

Um exemplo que se pode citar aqui, é o do Marrocos, já bastante tematizado nas telenovelas brasileiras. Basta rememoramos algumas, dente elas, o Sheik de Agadir.



Figura 1 Crítica sobre anova e cena de O Sheik de Agadir. Fonte: http://memoriaglobo.globo.com/



A telenovela estreou em 1966. A história, baseada no baseada no romance Taras Bulba, de Nicolai Gógol, fez circular as muitas imagens cristalizadas acerca do Marrocos, através de uma história de amor, que reunia elementos épicos, como a bravura, a determinação e guerra. No seu enredo principal, atrama se desenrolava quando os nazistas ocuparam a França durante a guerra. O sheik árabe, Omar Ben Nazir, selvagem, aventureiro, viaja para lá a fim de convencer os alemães a fazer uma aliança contra os franceses. Durante sua estadia, o sheik conhece e se apaixona pela princesa francesa Jeanette Legrand e a transforma em uma odalisca e segue para Agadir para o grand finale.

Sétimo Sentido foi uma telenovela produzida pela Rede Globo e exibida de 29 de março a 8 de outubro de 1982, ou seja, suas exibições perpassaram o período da copa do mundo de 1982. A trama tinha girava em torno da paranormal Luana Camará. Luana nasceu em Casablanca, no Marrocos, mas era filha de brasileiros. Ao contrário da telenovela O Sheik de Agadir, filmada em Marambaia- RJ, Sétimo Sentido teve muitas de suas cenas filmadas em Casablanca e em El Jadida, no Marrocos.



Figura 2 Cena da Novela Sétimo Sentido. Casamento no Marrocos da protagonista Fonte: http://memoriaglobo.globo.com/



Já no ano de 2001, a Rede Globo estreou a telenovela O Clone, cujo enredo misturava uma grade história de amor de uma muçulmana com um brasileiro, entrelaçando ainda, cultura árabe, dependência química, clonagem humana, através de cenas filmadas em Fêz e Casablanca, conjugando, assim, tradição e modernidade. Havia ainda, na narrativa da novela, uma espécie de ponte aérea entre o Rio de Janeiro e Fêz, pois havia uma grande integração entre os núcleos marroquino e carioca, além disso, o telespectador tinha à sua disposição diversas cenas do deserto de Sahara e da Medina de Fêz, além de poder sentir a atmosfera envolta em mistério e sedução.



Figura 3 Cenas da Novela O Clone. Casamento no Marrocos e cena no deserto. http://memoriaglobo.globo.com/

A telenovela O Clone foi exibida em mais de 90 países, sendo a sexta telenovela brasileira mais vendida para o exterior e o mais curioso a destacar é que muitas das expressões utilizadas pelo núcleo árabe da trama foram recorrentemente repetidas Ad Nauseum nas ruas do Rio de Janeiro como gírias que acabaram por serem incorporadas ao repertório carioca.

Diante do exposto, nessas poucas linhas, observa-se que no mais das vezes as telenovelas fixaram um imaginário de mistério e sedução em torno do mundo marroquino. Talvez, a “ mais perfeita tradução” do imaginário sobre a cidade de Casablanca resida no filme homônimo Casablanca, no qual atuam Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, cujos personagens vivem um drama romântico em uma Casablanca sob o controle da França. Muitos dos telespectadores ainda recordam da belíssima trilha sonora “ As time goes by” executada à exaustão pelo pianista do Rick´s Café.

Independente de quaisquer imagens sobre o Marrocos que residem no imaginário ocidental, baseada em um texto do ensaísta Silviano Santiago, lanço o questionamento: “Para quê viaja o estrangeiro?” Talvez, essa seja uma pergunta muito difícil de se responder.

Silviano Santiago elabora uma cartografia de viagens, ao lançar mão da narrativa de Camões, nos mostrando importantes aspectos da epopeia colonizadora e colonialista produzida pela pátria portuguesa, cuja finalidade era “propagar a Fé e o Império”, ao contrário do europeu que viaja pela “curiosidade pura e simples pelo que lhe é diferente, pelo outro.” É justamente pensando na viagem como metáfora do conhecimento, que precisamos olhar seja para o Marrocos, Tunísia, Egito ou qualquer outro país ao redor do mundo, ou seja, com o olhar da alteridade e do conhecimento sobre a cultura do outro. Ao estabelecer interrelações entre culturas, remeto-me a um ponto de contato, dentre muitos outros, entre Marrocos e Brasil, no que se refere à história da cidade de El Jadida [a nova], antigo protetorado português no Marrocos entre os séculos XVI e XVIII, cujo antigo nome era Mazagão e ainda guarda a antiga cidadela portuguesa junto ao mar, cujo conjunto arquitetônico da fortaleza lusa reúne a cistena e a Igreja da Assunção. A Praça-forte foi retomada pelos Marroquinos em 1769, quando seus antigos habitantes foram transferidos para a Villa de Nova Mazagão, localizada no Amapá, na Amazônia brasileira.

Para além das novelas, dos mistérios das odaliscas ou do deserto de Sahara, tão recorrentemente cantado na marchinha do carnaval carioca, observar a presença portuguesa no Marrocos pode ser uma primeira trilha de viagem, ou seja, “ onde o Marrocos encontrou a floresta amazônica” no século XVIII.

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