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Contos-->O dilema de uma mulher fiel -- 17/03/2003 - 13:33 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O DILEMA DE UMA MULHER FIEL

Mostrando-se tensa, mirando o vazio, Marlene ingressou no consultório do Dr. Evaristo sem dirigir-lhe cumprimento. Dos seus lábios saíram apenas murmúrios, que o psicanalista não conseguiu traduzir.
O médico procurou deixá-la à vontade, oferecendo-lhe o divã. Ela preferiu sentar-se numa cadeira e passou a correr os olhos pelo ambiente: do chão ao teto, do teto às paredes, das paredes aos móveis, dos móveis aos utensílios e dos utensílios ao homem à sua frente, que esperava pacientemente o início da consulta.
Após alguns minutos de reflexão, Marlene exclamou, com voz fraca: - Matei meu marido, doutor. Matei meu marido.
O Dr. Evaristo aguardou outras palavras, mas elas não afloraram. Pediu então à paciente, entre assustado e curioso, que ela contasse detalhadamente o que tinha ocorrido.
Marlene passou a tirar de seu peito o que tanto lhe oprimia, transcrevendo o autor a seguir a narração feita.
“No meu tempo de estudante, doutor, debrucei-me, certa vez, sobre alguns textos de Voltaire. Lembro-me de que me chamou a atenção uma novela do filósofo intitulada “Um Pequeno Mal por um Grande Bem”, onde Cosi-Sancta, uma linda e virtuosa mulher, concordou, relutantemente, a ser complacente com um médico que lhe exigia o corpo para salvar a vida do filho.
Não poderia imaginar que eu viria enfrentar o mesmo dilema da personagem de Voltaire.
Tudo começou quando encontrei, no fundo de gaveta usada por Ezequiel, meu marido, um pacote de cocaína. Apavorada com a descoberta, joguei a droga no vaso sanitário, fazendo-a desaparecer no meio de um movimento forte e giratório de águas.
É fácil adivinhar, doutor, que meu procedimento deixou meu esposo furioso, mesmo porque ele teria de prestar contas do sumiço da maligna substância.
Deram-lhe uma semana para que ele levasse aos donos do tráfico quantia equivalente ao preço da cocaína, sem o que a sua vida não valeria um só tostão.
Apesar de nossa peregrinação por bancos e casas de parentes e amigos, não conseguimos o dinheiro necessário à quitação da dívida no prazo estabelecido, o que levou Ezequiel a esconder-se em localidade não muito distante.
Consegui contato com o chefe da quadrilha que cobrava o pagamento da droga, contando-lhe, na ocasião, que eu tinha sido a culpada da perda do produto e prontificando-me a ressarcir o prejuízo caso fosse dado um prazo maior para tanto.
Desde o início de nosso encontro o homem não cansava de olhar-me com interesse. Após ouvir-me com atenção, apresentou-me uma proposta indecente: se eu dormisse com ele meu pedido seria atendido.
Recusei prontamente a oferta. Não poderia trair meu esposo, notadamente com alguém que me causava enorme repulsa. Declarei minha posição e despedi-me, reiterando o pedido de dilatação do prazo para pagamento da droga perdida.
Não mais consegui encontrar o tal sujeito e meu marido apareceu morto numa estrada poucos dias depois.
E eu, que tanto amava Ezequiel, causei a sua morte por não traí-lo, quando deveria ter colocado de lado, para protegê-lo, meu pudor, minha repulsa e o medo da reação do marido quando soubesse do adultério.
Eu o matei, doutor. Eu matei o homem que amava”.
Quando Marlene parou de falar, ouviu do Dr. Evaristo apenas as seguintes palavras: - Não, você não matou o seu marido. Vamos voltar a conversar a respeito em nosso próximo encontro.
Nas sessões que se seguiram, o médico foi implantando na paciente uma tranqüilidade não existente desde a morte do marido.
E tanto o psiquiatra elogiou e aplaudiu o comportamento da moça que passou a dedicar-lhe uma profunda admiração e, posteriormente, um intenso amor, que procurava esconder em respeito à ética médica.
Por seu lado, Marlene, após poucas consultas, já se mostrou outra pessoa. As palavras do médico não só lhe tiraram a culpa pelo ocorrido, como também lhe mostraram que seu comportamento era, certamente, o que todo homem esperava de sua mulher.
Além do mais, como dizia o Dr. Evaristo, submeter-se aos instintos bestiais do traficante não garantiria a vida do esposo, uma vez que os bandidos não têm honra, não se preocupando, portanto, com o cumprimento da palavra dada.
O conforto e a segurança recebidos do analista levou Marlene a desejar ardentemente estar sempre ao seu lado, motivo por que aceitou, sem pestanejar, abandonar a viuvez e casar com o psiquiatra.



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