Quando o médium estiver
Mui absorto em pensamentos
Irá saber, certamente,
Donde vêm os seus tormentos.
Que raridade de versos
Construímos logo acima:
Vejam só que perfeição,
Quanto ao ritmo e quanto à rima...
Sou exímio na ironia,
Quando trato de mim mesmo.;
Talvez seja estimulante
Esgrimir mesmo que a esmo...
Conhecidos os batutas
Que terão de duelar,
Apartemos suas lutas:
Conjuguem o verbo “amar”.
Naturalmente, outro dia,
Vamos aperfeiçoar
Os pobres versos de agora,
Para lhes dar um novo ar.
Que misteriosa ocorrência
Está para acontecer:
Tratar-se-á de vidência
Ou algo de estarrecer?
Pois, simplesmente, acontece
Que os versos tiveram fim,
Não no dia ou na folha,
Mas nesta página — sim...
Excelente, bom colega,
Perceber que não se afina,
Tendo em vista tão ruim
Ter sido esta sua sina!
Queimaremos o papel
Que não nos tiver servido:
Mais vale um favo de mel
Do que vespeiro atrevido.
São amáveis os bichinhos
Que se deixam dominar,
Não tanto na natureza,
Mas por força de rimar.
Que pena que não tenhamos
Qualquer forte inspiração,
Senão agora estaríamos
Com o coração na mão.
Os rápidos versos surgem
Perfeitos em sua métrica,
São todos de sete sílabas,
Conquanto com rima tétrica...
O médium fica contente,
Quando a rima surge feita.;
Percebe, então, que su’alma
Se sente bem mais perfeita.
Caminharemos sozinho,
À procura de acertar:
É impossível que, um dia,
Não venhamos a rimar...
É sagrado o pensamento
De que tudo irá ter fim,
Pois também o treinamento
Já está quase pronto assim.
Aqueles versos continham
Um bom desenvolvimento,
Contudo, ao chegar a rima,
Houve um esmorecimento.
Querelas são imperdíveis,
Se realizadas co’amor.;
Entretanto, se houver ódio,
Fujamos delas: — “Que horror!”
Que belos os sentimentos
Demonstrados outro dia.;
Em vez de duros tormentos,
Houve mui suave harmonia.
Cada vez que terminamos
Nossas tarefas dum dia,
Sentimos enorme alívio:
Sinal de sabedoria.
Nossos irmãos deste lado
Não sabem o que dizer.;
O mediunato é sagrado:
Só se pode bendizer.
Agora, estamos contentes,
Por já saber que é a hora.;
Vamos ter, forçosamente,
De permitir que vá embora.
São poucos os nossos médiuns
A serviço cá do etéreo.;
A maioria das vezes,
O seu sentimento é aéreo.
Forçamos aquela rima,
Para dar curso à poesia,
Mas esta rima de agora
Não vai trazer agonia.
Conheçamos nossa sina,
Compreendendo à perfeição
Como se faz a engrenagem
Que conduz à encarnação.
Satisfeitos estaremos,
Quando esta festa acabar:
É sinal de que teremos
Outro bem a cultivar.
Nada, no mundo, acontece
Sem nada de sofrimento.;
Entretanto, a nossa prece
Pode evitar o tormento.
Conhecendo o irmão que escreve,
Vamos afirmar convicto
Que não teremos trabalho
Por deixá-lo muito aflicto.
Quermesses e procissões
Se fazem todos os anos,
P’ra suplicar aos irmãos
Que se evitem os enganos.
É rica a veia poética
Dos irmãos do nosso grupo.;
Mas não consegue evitar
Que aqui se ouça muito apupo.
Quando chegar minha vez
De partilhar da poesia,
Pretendo trazer a quadra
Pronta desde um outro dia.
Como faço p’ra evitar
Que as rimas fiquem caducas?
Pois é preciso parar
De ter idéias malucas...
Conheci um bom mineiro
Que pitava todo o dia.;
Ia perdendo a saúde:
Morreu já de pneumonia.
A malária é uma doença
Transmissível por inseto.
O bem que gente promove
Não tem o mesmo trajeto.
Quase estamos conseguindo
Complementar as quadrinhas.;
Quem sabe esteja bem próxima
A vinda das adivinhas.
Forçamos o mais das vezes
Que o verso fique completo,
Inscrevendo, nos dizeres,
Algum sujeito ou objeto.
Adiantar-nos-á insistir,
Bom amigo Wladimir?
Não será maior tormento
Vir dar corda ao pensamento?
Não haverá bom refrão
Ao prolongar a canção,
Já que é doce a melodia
Que se ouve ao final do dia?!
Os versos de par em par
São mais fáceis de fazer,
Pois dá para adivinhar
A rima que irá nascer.
Quando se trata de quadra
Essa expectativa aumenta,
Porque, entre um e outro verso,
A alma fica desatenta.
— “Com certeza!” — está a dizer
Este amigo, conformado,
Pois já aprendeu a fazer
Pelo método quadrado.
— “Que bom seria se agora
Terminasse o meu tormento,
Pois estão a me dizer
Que tudo é no pensamento!”
Eis que nos chega o arremesso
Que nos leva ao fim da linha.;
Seja, pelo menos, esta
Uma excelente quadrinha.
Hoje o dia está perfeito,
Como o amigo adivinhou,
Pois falta bem pouco tempo:
Este exercício acabou...
Quem sabe, em data bem próxima,
Nos visite alguém de peso,
Que saiba trazer sossego:
Hoje o ambiente está teso.
Acabrunhados ficamos,
Ao final de mais um dia,
Sem que tenhamos chegado
A expressar doce alegria.
Bem suave é a melodia
Que nasce no fundo d’alma.;
Por sobre tudo ela paira:
Sobre o mundo leva a palma.
Sem medir as conseqüências,
Caímos no lodaçal.;
É duro sair de lá,
Carregando grande mal.
O nosso último versinho
Afinal será ditado,
Pois não é crível que dê
P’ra sair atormentado...
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