Suzana tem apenas nove meses de vida, ainda se alimenta no ventre da mãe, suga dela as energias de que precisa para continuar viva. Ela é minha filha, na ultrasom deu pra ver que o nariz é chato como o meu, os lábios grandes como os meus, e o queixo delicado como o da mãe.
A mãe, mais ansiosa do que eu pela vinda de Suzana, já admite que o cabelo da filha será igual ao do pai, nhém, pichaim...Desde que, diz ela, seja pelo menos bonita como a mãe, esse detalhe será superado com alguns kilos de amaciante!
Pura fantasia essa que vivemos. A primeira filha, quer dizer, não tivemos ainda nenhum bebê; Suzana é a primogênita, a primeira de três filhos, provavelmente. Não sabemos qual é o mistério que envolve ser mãe, ser pai. E o fato de termos sido apenas filhos não ajuda muito. Parece que a responsabilidade por uma nova vida, um novo
ser no mundo, esse mundo conturbado, feio, cheio de tragédias, torna-se em verdade uma grande irresponsabilidade; todavia, estou consciente que nada é maior do que a alegria de saber que uma criaturinha tão indefesa, tão quase um delicado elemento facilmente destrutível por um toque menos carinhoso, é fruto do meu amor como minha mulher, é o produto dessa união infinitamente mais nobre que a junção de um óvulo dela com um espermatozóide meu. Da união de nossas almas surgiu uma terceira.
Não sabemos como será a vida de nossa filha, o que sei, eu, o pai, é que desejo um universo de felicidades para ela, um mundo de infinitas alegrias, um cosmo de insuperável beleza e harmonia. Nas decepções, creio que saberemos prepará-la para elas.
O mundo será dela, e nós, Valdinete e eu, temos sob os ombros a imensa responsabilidade de criá-la para nele viver, sem medos, sem pavores infernais, sabendo que Quem nos guardou até aqui a guardará também.
Seja bem-vinda, minha filha! |