Tenho por hábito matinal tomar um pouco de sol, sentada num dos bancos da Pracinha aqui perto... É muito agradável e há um quiosque de flores e plantas que dá ao lugar
um "ar perfumado".
Aproveito, também, para ler o jornal.
Esta manhã, observei um fato curioso.
Uma jovem mãe e uma menina, de uns cinco anos.
O que me chamou a atenção foi o fato de a mãe ralhar com a filha e dizia:
- Não repita isso! É muito feio...
Curiosa, prestei mais atenção. O que teria dito a graciosa menina de feio, para deixar a mãezinha tão aborrecida?
Ouvi, então, a criança dizer, aos brados:
- Xereca! Xereca! Xerecuda! Você tem Xerecaaa!!!
Não pude conter uma risada.
A mãe, indignada, deu-lhe uns tapas e torceu-lhe a orelha, até ela parar de gritar aquela palavra "horrível".
Puxou a Rebeldezinha pelo braço e saiu. E eu as observava com ternura e acompanhei-lhes os passos. E, ao passar por mim, talvez notando a minha atenção, a menina gritou:
- Você tem Xereca!
Eu, naturalmente, respondi:
- Claro, meu anjo... Tenho Xereca, sim! E você também tem.
Creio que ela esperava uma "cara torcida" de minha parte. Notei-lhe um brilho malicioso no olhar... Deu mais uns passos, olhou para trás e acenou-me com a mãozinha, calmamente, como se dissesse:
- Claro que tenho "Xereca"... Todo mundo tem... Só não entendo por que a minha mãe acha o nome da "Xereca" tão feio...
E na curva do caminho, ela me acenou mais uma vez...
A CRIANÇA É TÃO PURA EM SUAS DESCOBERTAS. MAS O ADULTO INSISTE EM ENSINAR-LHE PRECONCEITOS TÃO IDIOTAS...
Lembrou-me, agora, alguém, solitário
e triste...
Creio que a mãe dele também
o repreendia quando ele dizia palavras inocentes, como "Xereca"...
Talvez por isso ele, agora velho, tenha a cabeça cheia de malícia e acha "bonitinho" escrever certas palavras... É um tipo de esquizofrenia paranóica que, pelo jeito, nenhum analista consegue diagnosticar, por estar escondido nos recantos mais negros da mente,
onde nenhum "raio X" pode penetrar...
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