Quando nos mudamos para esta casa ela era pequenina.
A vimos crescer e como era linda cada vez que ficava coberta de flores!
Os frutos deliciosos nos convidando então!
À medida que ela crescia, meu pai ia podando os galhos. Abrindo caminhos para que, sem dificuldades, alcançássemos os ponteiros, que é onde os frutos ficam mais saborosos.
Recordei agora algo que me toca e me faz rir.
Quando eu me aproximava dos quatorze anos gostava de chegar nos galhos altos e ficar cantando a plenos pulmões.
Era uma fase maluca, uma fase em que eu gostava de me isolar do mundo e procurava refúgio na árvore amiga. Ela possuía um gingado próprio em seus galhos aparentemente frágeis. Não sei se devido as podas que meu pai fez tão engenhosamente, ou se a árvore possuía mesmo esta característica.
Bem, depois estive doente por um longo tempo e não mais consegui subir em seus galhos.
Então ficava no chão esperando as graúdas jabuticabas dos ponteiros que sempre alguém se oferecia para apanhar para mim.
Houve um tempo bom, em que à sua sombra, arrumávamos a mesa e as cadeiras e toda família se unia. Desfrutávamos deliciosos churrascos.
Com sua alegria, meu pai, jogava "truco" com os filhos, genros, sobrinhos e amigos.
Que alegria havia neste quintal naquele tempo!
Como ele gritava alto e todos vibravam de contentamento. Truco! Seis! Pareço ouvir ainda...
Hoje, Ã sua sombra observo que grande parte (praticamente metade de seus galhos) necessitou ser cortada.
Estava secando nossa velha jabuticabeira.
Sob ela minha mãe conserva ainda suas folhagens e orquídeas.
Olhando-a eu recordo passagens de nossas vidas e penso no significado que esta árvore teve para nós. Acho que foi pensando da mesma maneira que eu minha mãe não deixou que sacrificassem a árvore inteira.