Minha alma sempre ansiou por paz.
Os recantos calmos sempre foram os meus preferidos.
Vou lhes contar agora um pouco o que se passa à minha volta.
Estou sentada num banco de praça de uma cidadezinha muito singela.
Árvores magníficas me rodeiam.
Ouço cigarras a cantar em cada árvore, já que estamos na primavera.
Um sabiá, com seu mavioso canto faz o fundo musical.
Bem-te-vis vêm quase a meus pés.
Rolinhas estão em toda parte. E pombos do ar.
Os beija-flores se aproximam sem medo. Os pardais com suas comunidades alegres fazem algazarra por aqui.
Tudo é muito limpo e muito organizado.
No centro da praça há um pequeno lago artificial onde peixes lindos nadam alegremente.
Estive observando-os um bom tempo e me deliciando em vê-los nadar em fila indiana e depois contornar as pedras desencontrando-se num nado sincronizado.
Há também um chafariz por aqui jorrando abundantemente sobre pedregulhos.
Ouço as cigarras e os sabiás e as recordações voltam. Cigarras recordam minha infància linda e os sabiás trazem meu pai de volta. Meu pai com sua paixão por esta ave. Meu pai, quando pescávamos e ficávamos quietinhos ouvindo o canto deles.
Custo a crer que estou aqui, absorvendo tamanha paz.
Penso em Deus, nos homens.
Sinto a brisa me acariciando e penso que sou filha desta terra amada, e que nunca mudei. Sou sempre a mesma.
Sou a menina que se sentava aqui para sentir toda a paz que a praça consegue proporcionar.
Ela não mudou muito. Não temos mais o coreto, é verdade. Em seu lugar existe uma concha acústica.
O modernismo chega a toda parte.
Mas os bancos, as árvores. A brisa deliciosa, o canto dos pássaros...
Isto não mudou.
A magnífica igreja matriz bem à minha frente e os casarões antigos.
A maior parte deles conservados e bem cuidados. Não os descaracterizaram com as reformas e eles continuam a contar a história da cidade.
Respiro fundo. É o ar de minha terra. Sinto-me feliz de estar aqui.
Sinto-me em paz comigo mesma, com o mundo.