se havia pedras no caminho,
pelo menos elas já estavam lá antes
dos caminheiros humanos,
e, sendo pedras, não sabem o seu caminho...
as pedras não falam.;
e se falassem, o que diriam àqueles
a quem significam atraso na viagem?
pediriam desculpas pelos calos nos pés?
pelos cortes profundos?
pelos tropeções inconvenientes?
ou solicitariam, caladas,
que nós as agradecêssemos
pelas tantas vezes que, sem resistir,
tornaram-se armas contra os inimigos?
ou objetos valiosos para a derrubada de um fruto?
à pequena pedra que matou Golias o que seria dito?
e à imensa que selou o túmulo de Cristo?
e às que mataram e matam mulheres adúlteras,
mártires nacionalistas, apóstolos destemidos?
e às que enfrentam balas, entes, fadas?
as pedras, ora, elas estão no caminho
para nos dizer:
“nenhum homem jamais saberá o nosso caminho,
o caminho das pedras, porque a humanidade é
formada por pedras brutas, torpes, indecentes,
e ainda que alguns se transformem em diamantes,
belos, desejáveis, aptos à eternidade,
são os primeiros, as pedras brutas,
que tanto mal causam a seus semelhantes,
e de tal monta que, não sabendo resistir
ao mau uso que de nós fazem as mãos humanas,
aceitamos nossa condição, submissas à razão
humana, tão pródiga em construir e tão mais
em destruir, e nos escombros, restamos nós...
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