O médium fica contente,
Quando percebe na folha
Que suas intuições
Não estão presas por rolha.
Rapidamente, escrevemos
O que nos vem à cabeça.;
É preciso que assim seja,
P’ra que o médium não se esqueça.
Saindo da confusão,
Vamos pregar no deserto,
P’ra sentir, dentro do peito,
O coração mais aberto.
— “Fica quieto!” — exclama o pai,
Temeroso que o filhinho
Possa, com grosso alarido,
Acordar seu irmãozinho.
Vemos, na quadrinha acima,
Como é que os termos se ajustam.;
E, se o assunto for criança,
Os pensamentos não custam.
Procuramos caprichar,
Estando aqui ao seu lado,
Porquanto estamos temendo
Que, por falta de cuidado,
Este impulso vá perdendo
Todo o brilho desejado.
O bom e querido médium
Tenta fazer sua parte,
Porém, nós não propendemos,
Pois não sabemos a arte.
Destarte a rima se agrava,
Em seu mínimo conceito.
É que o arremesso de agora
É o que outrora não foi feito.
Limitamos a informar,
Em alguns versos quebrados,
Não termos capacidade,
P’ra deixar acumulados
Vários conjuntos perfeitos,
Ou simples arremedados.
Que vergonha, meu amigo,
Não ter consideração,
Diante de tanta atenção,
Que se tem para comigo!
Se o custo desta poesia
Se estender semana adentro,
Pode ficar satisfeito:
São cheiro-verde e coentro.
Eis que esta primeira folha
Já se encontra despachada.;
Dentro duns poucos instantes,
Outra vai ser alcançada.
São particípios tão fáceis,
Tão simples de se encontrar,
Bem assim infinitivos
Que insistem no som em ar...
Quanta ilusão pegajosa!
Quanto aspérrimo argumento!
Vamos por hoje encerrando
Este pobre atrevimento.
— “Que desperdício de tempo!” —
Estão pensando os que lerem
Estas folhas que se soltam
Sem nunca se preencherem.
Os arrivistas chegaram,
Estão já na ordem do dia,
Talvez consigam fazer —
Melhor do que nós — poesia.
— “Que pena!” — dirão alguns
Que esperavam encontrar
Algo que fosse valioso
Até para publicar.
Mas a doce expectativa
Frustrou-se perante a rima,
Porque, por mais que insistamos,
Nos falha abaixo ou acima.
Cada personalidade
Tem o seu modo de ser,
Quem sabe, um dia, cheguemos
A alguém espairecer.
Contadas as sete sílabas,
Parece tudo andar bem,
Mas, ao dizer o poema,
Não agradamos ninguém.
Se o fluxo destas idéias
Estiver determinado,
Acho que ainda teremos
Algo muito iluminado.
Por toda simplicidade
Das palavras que vicejam,
É que temos p’ra conosco
Quais os que melhor versejam.
Dentro de poucos minutos,
Este treino encerraremos.;
Teremos algum sucesso,
Ou derrota amargaremos?
É esta última a hipótese
Mais certa de acontecer,
Porquanto estamos descrendo
Que consigamos vencer.
Temos ainda três linhas,
Para o término da folha.;
Será que iremos fazer
Aparecer outra bolha?
Outra página se abre,
Cá diante de nossas vistas,
Para novos arremessos
De nossos sutis artistas.
Que excelentes sentimentos
São os de que nos valemos,
Pois, de pronto, percebemos
De que lado vão os ventos.
Perícia e assaz persistência
Não faltam ao amiguinho,
Que fica a nos provocar
Para fazermos versinhos.
São quadrinhas bem singelas,
Feitas sem muito temor
De ofender a quem nos tem
Simpatia e muito amor.
Não queremos estender
Por muito tempo esta fase,
Pois nos parece ter tido
Satisfação... ou bem quase.
O bondoso amigo médium
Não quis deixar outra linha
Permanecer intocada,
E completou a quadrinha.
Nós não tratamos desta última,
Mas da que está logo acima.;
Atrapalhados ficamos
Para arranjar-lhe uma rima.
Estamos desenvolvendo,
Com muita dificuldade,
Um pouquinho de poesia,
Por excesso de vaidade.
Não vá confundir, irmão,
Este que compareceu
Com alguém bem conhecido,
Amigo ou parente seu.
Sou tão-só um bom parceiro,
Com muito boa intenção,
Porque não vou produzir
Algo que receba um não.
Publicação, nem pensar.;
Trata-se só de exercício,
Por isso, fique tranqüilo:
Dê seguimento ao serviço.
Não nos importa se a rima
Não se apresente perfeita,
Por certo, num outro dia,
Teremos a que se ajeita.
A notação dos versinhos
Está ficando sagrada.;
Quem sabe, algum dia, ocorra
De surgir algo do nada.
Antigamente, eu dizia
Várias palavras seguidas.;
Hoje, distante das vidas,
Não produzo mais poesia.
Estou vendo que este amigo
Vai insistir mais um pouco.;
Será que já desconfia
Que de poeta e de louco...
As coisas ficaram pretas:
Não consegui terminar
O que comecei afoito
Dando muito o que pensar.
Agora mesmo acredito
Que haja possibilidade
De se encontrar o caminho
Com maior facilidade.
Basta ir tentando, querido,
Pois na vida é tudo assim.;
Até quem era poeta
Disse “mim” e ouviu “capim”...
Temo que tenha exercido
Algo além de meu direito,
Pois o pobre companheiro
Já sentiu, dentro do peito,
Palpitar-lhe o coração:
— “Será que vai ser agora?
Que pena! Penso que não...”
O rádio está musicando
Linda valsa sertaneja:
São “recuerdos” doutros tempos,
De vida mais benfazeja.
De vez em quando, tentamos
Introduzir outros temas,
Para poder discernir
A extensão destes dilemas.
O rascunho está perfeito.;
Passar a limpo é outra trela.
Quem sabe, um dia, faremos
Brilhar mais alto esta estrela?!...
Ralha conosco o escrevente.;
Exige concentração,
Senão — eis sua ameaça —
Irá deixar-nos na mão.
Brilhante a nossa quadrinha,
Afinal nós acertamos.
A rima estava perfeita:
Eram árvores “e ramos”...
Hemos hoje extrapolado
Os limites que nos demos.
É que não havia jeito:
Se no barco, puxe os remos.
Raramente conseguimos
Ver nosso verso rimar:
Porquanto é quase impossível,
Sem assunto, versejar.
Adeus, caro companheiro,
Fique na paz de seu lar,
Aceite deste parceiro
Um forte e bom abraçar.
Esta vai ser bem a última
Das estrofes deste dia.;
Não se trata de poesia,
Mas de dizer, simplesmente,
Que fiquei muito contente
Co’a produção de alegria.
|