A boa alma não acusa aqueles que navegam na noite escura da ganância; ‘pisam, na poeira do chão, a cabeça dos pobres, e impedem o progresso dos humildes...’ Há uma multidão incontável de seres espirituais do mal, inoculando a fumaça da corrupção nas repartições públicas, e em todos os lugares de onde emana o poder. ‘Se o leão ruge na selva, não é porque encontrou uma presa?... Acaso, sem armadilha, prende-se uma ave ao chão? Se no covil rosna o filhote de leão, não é porque agarrou sua parte?’
Mãe e mestra, a Igreja sabe que somos vela acesa em meio à tempestade. Acaso existe entre os homens alguém que possa acrescentar um só dia que seja à duração de sua vida?
‘Pô, meu! Tipo assim: Não para de chegar torpedo do inferno, a cobrar.’ É o preço que paga a alma que anda nas trevas. É preciso vigiar. Perscrutar a imensidão do céu e desviar-se do coral que insiste furar o casco do navio.
Santos naufrágios no mar da vida! Quem escapará deles? Muitos tentam salvar o náufrago e se afogam com ele. São justiceiros que combatem o crime, e com a mesma espada tornam-se criminosos. Quando um navio pirata navega em tormenta, a intervenção da Marinha Costeira deve ser discreta e moderada, para que não ocorra vir a naufragar em águas profundas. Também a vida, assim navega, e se o timoneiro dorme, a embarcação viaja à deriva. Não se pode apegar-se ao timão e negligenciar a bússola, nem apegar-se à bússola, e negligenciar o timão, sem correr o risco de ser levado pela correnteza ao mais profundo abismo. A vida não é um jogo de ganha-e-perde. Mas todo perdido, pode ser encontrado, se brilhar uma luz na escuridão.
***
Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...
|