Formosa rosa em botão
É flor que se vai abrir.;
É dessa forma que vemos
A vida de Wladimir.
Outro dia de trabalho
É este que hoje transcorre.;
Aproveitemos o dia
P’ra de amor tomar um porre.
Entre os diversos dizeres
Que, lá na Bíblia, encontramos,
É bem difícil de achar
Palavra de que gostamos.
É, pois, preciso cuidar
Nada lançar no papel,
De forma precipitada:
— Não creia em Papai Noel...
Abra espaço, bom amigo,
Para a reforma moral.
Não fique dependurado
Em beiradas de cristal.
Somos todos prisioneiros
De compromisso assumido.;
Pode ser que alguém escape,
Mas disso muito duvido.
Plantei cheirosa roseira,
No fundo do meu quintal.;
E quem olhar para ela
Se olvida de qualquer mal.
Roncava Juca, furioso,
Palavras de atroz vingança.;
Mas fugiu-lhe o desafeto:
Foi p’ra bem-aventurança.
Era Raquel o seu nome,
No tempo em que a conheci.;
Foi, porém, como Rosaura
Que com ela convivi.
Antigamente eu sabia
O que iria escrever.;
Agora mourejo à toa,
Sem saber o que dizer.
Chamo os poetas do etéreo
Que venham falar comigo:
Estou à disposição
Para lhes dar meu abrigo.
Reconheço: tenho muito
Que deverei aprender,
Mas continuo disposto
Ao sacrifício fazer.
Não irei decepcionar-me
Se falhar mais de uma vez.;
É que sei que tudo passa:
Não existe aqui “talvez”.
— “Estou à disposição” —,
Diz o médium, irmãozinho.;
Mas não consegue entender
Que agora fala sozinho.
Desde bem pequenininho,
Tenho tido experiência.;
Será que agora terei
De perder minha paciência?!
As atitudes que assumo
P’ra poder oferecer
Um pouco de regalia...
Não sei o que vá dizer...
Enquanto estou esperando,
Não me custará escrever,
Quiçá, vai dia, vem dia,
Algo possa surpreender.
Jamais compreendo de fato
O que acontece comigo:
Estarei realmente só,
Ou estará aqui um amigo?
Se qualquer coisa viesse
À beira do entendimento,
Por certo iria ficar
Isento de sofrimento.
O que muito me interessa
Conhecer, neste momento,
É a maneira usual
De ter aproveitamento.
“Como são belos os dias
Do despontar da inocência!”(1)
Acho que algo encontrei,
Bem no fundo da consciência.
Sinto que em tudo que escrevo
Existe o desejo imenso
De fazer algo que preste.
Será isso egoísmo,
Ou somente “cafajeste”?...
Estou com muita vergonha
De tempo estar a perder:
Sinto forte comichão
Para parar de escrever.
Temo que tenha perdido
Outra horinha preciosa,
Vendo se escrever consigo
Alguma coisa valiosa.
Meu forte poder de crítica
Não me permite dizer
Que tenho facilitado
As coisas p’ra outro ser.
Devo, portanto, encerrar
Toda esta minha aflição,
Bem certo de que algum dia
Vão me tomar pela mão
Para deixar registrado,
Sempre com muito cuidado,
Algo “em forma de canção”.
Temo que esteja perdido,
Que já não tenha perdão,
Que o meu coração amigo
Não consiga mais vibrar
Sem grande perturbação!
Escuto o som de um motor
Roncando forte na rua.;
Mas prefiro a solidão
De um céu cheinho de lua.
“Lua, rua” — é riminha
Demasiado “careta”.
Quero ver como me arranjo
Se estiver a coisa preta!
“Quem convive co’a” — miséria
“Irá ter algum” — valor?
“A coisa é bastante” — séria:
“É preciso ter” — amor!
“Este” — desapontamento
“Se algo nos falha na” — vida,
“Quer que estejamos” — atento:
“É luta” — reconhecida.
Atenuemos um pouco
Os momentos de tensão,
Fazendo ver ao irmão
Que, sem força de vontade
Da parte de algum dos seres,
Ninguém poderá chegar
A alcançar felicidade.
Mediunidade é renúncia,
Mas é também alegria.
Não fique, querido amigo,
Triste, triste — noite e dia.
Quem sabe bem esperar,
Com o coração na mão,
Um dia, vai alcançar
As terras da perfeição.
Estes últimos recados
Já se vão constituindo
Em bons frutos fora de época
Que se vão distribuindo.
Saber apanhar poesia
Há de ter um pressuposto:
Será preciso que o espírito
Também esteja disposto.
Não basta o médium saber
Distribuir as palavras,
Se este anunciante não sabe
Para que servem as lavras.
Queremos dizer com isto
Ser o sacrifício inútil.;
Não terá nenhum sentido,
Se o tema for muito fútil.
(1) Versos de Casimiro de Abreu (“Meus oito anos”), “in” As Primaveras.
|