O poeta procura provar em tese que o nivel em nenhum ponto do
globo, a água supera o da terra em altura. Cabe indagar por que Dante ,
já poeta consagrado , sentiu necessidade de enfrentar o rigor dos
examinadores para discutir um tema filosófico-cientifico. Vale lembrar
porém, que na Divina Comédia ele não se intimidava diante de
questões cientificas. Mas este meu trabalho, como poeta, contista,
traz uma pequena demostração da Literatura mundial, uma idéia,
para você leitor da era da informática. Como eu dizia Dante não se
intimidava, basta examinarmos o primeiro canto do Paraíso em que se
discute amplamente a levitação do viajante Dante, corpo e alma, pelo
céu. Arte e ciência , filosofia e fisico-quimica não se searavam para um
poeta medieval cultíssimo como Dante. Católico e mistiço, para quem
certamente a vida humana na terra era somente preparação para
verdadeira vida após a morte, ele impunha limites ao conhecimento
dos homens. Tal qual Ulisses, que ele transforma num sábio navegador no
canto 26 do inferno, o homem possui barreiras ao conhecimento que não pode
não pode em hipótese alguma ultrapassar. Leonardo da Vinci , nos
seus apontamentos, reunidos num único livro publicado na Itália,
com o titulo de Scritti Letterari, critica os homens de ciência da idade
média que para demonstrar idéias supostamente cientificas baseavam-se
nos textos antigos, sobretudo de Aristóteles, ou em dogmas religiosos.
Leonardo da Vinci foi , então, o primeiro a tirar conclusões cientificas
por meio da observação direta da natureza e dos seres humanos.
No entanto, o autor de A Mona Lisa e de A Santa Ceia, não constitui,
na opinião de insignes estudiosos de filosofia da ciência, uma verdadeira
ciência. É inegável, porém, o impulso que Leonardo, com as suas
observações e desenhos, deu ao desenvolvimento cientifico. Dante,
sob certos aspectos, se encaixaria perfeitamente no perfil de poeta-filósofo
e cientista repudiado por Leonardo da Vinci. A Questão da água e
da terra, advêm sobretudo das fontes naturais ou partem dos dogmas cristão,
ele procura observar em certos momentos os fenómenos naturais,
como o fluxo das marés, por exemplo. Os preceitos da teologia
cristã já aparecia na Divina Comédia, no paraíso. Teologia e verdades
cientificas não se separam no Paraíso. Isso explica provavelmente
por que Dante, um ano antes da morte, decide enfrentar questões
cientificas complexas para época.. Nesta Quaestio, publicada apenas
em 1508 e escita obviamente em latim, língua oficial da ciência pelo
menos até Galileo Galilei, vale a pena acompanhar o árduo raciocínio
empregado pelo poeta para chegar à s conclusões esperadas.
Dante penitencia-se por ter se deixado levar pelo amor à verdade,
por te incorporado momentaneamente seu personagem Ulisses, e volta a investir-se da alta missão
que acredita ter na Divina Comédia : ensinar à humanidade o
caminho da salvação, que consiste basicamente na renúncia total
aos bens falsos, numa contastante preparação à vida eterna, pós
morte. A mitologia pagã e toda a sabedoria dos pensadores e
poetas greco-romano ganham importància na Comédia, mas surgem
submissas a verdade cristã, Virgilio por exemplo, logo no primeiro
encontro, declara ao discípulo ter vivido na época dos deuses
falsos e mentirosos. Na questão da água e terra, o desejo de
conhecimento arrefece-se nas conclusões finais e a tese perde o
fólego. Esse teste final a que o poeta se submete pouco antes da
morte insere-se no messianismo que norteia a Divina Comédia,
pois reflete a preocupação de Dante em legar verdades à posteridade,
morais mas também cientificas.Todas as profecias da obra-prima
de Dante apontavam para um messias, possuidor de todas as
virtudes cristãs e conhecedor da verdade dos homens. O poeta prevê
de certo modo o inevitável desenvolvimento do conhecimento humano.
-José Angelo Cardoso.- Poeta, contista, artista plástico
Presidente-fundador da Academia Guairense de letras.
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