Quando as gazelas passaram a exigir o direito de co-determinação, os leões foram contra. "Ainda chegaremos ao ponto", disseram os leões, "de as gazelas determinarem a quem iremos devorar". Reportavam-se a um insuspeitado estudo da Wild World Foundation, falando em parceria selvagem com clara divisão de competências: de um lado devorar, de outro ser devorado. "Pois está mais do que claro", assim eles diziam, "ninguém pode, a um só tempo, entender de devorar e ser devorado. E a decisão de devorar precisa ser tomada com rapidez e independência". Também às gazelas isso trouxe alguma clareza. "Nesse ponto, eles têm razão", disse uma delas, "pois devorar, afinal, nós também devoramos". "Mas somente relva", disse uma outra. "Tudo bem", replicou a primeira, "mas só por sermos quem somos. Fôssemos leões, também nós haveríamos de devorar gazelas". "Assim está correto", disseram os leões.
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autor: Peter Bichsel (cf. "Uma fábula para cabeças dialéticas", em ensaios )
tadução: zé pedro antunes
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