Prostitutas não têm amigos nem amizade com ninguém. Não confiam nem na própria sombra e nem podem. Muitas são as cicatrizes que trazem no corpo e na alma. Não têm histórias escritas em livros e aqueles que escrevem sobre elas, são gigolôs. Tiram o dinheiro delas, retiram de onde não depositaram. São personagens da dor, canal por onde entra a fumaça do mal. Traem e são traídas, ferem e são feridas. Defendem um relacionamento que não querem ter, mas precisam. Não precisam de um homem, precisam do dinheiro dele. Precisam do relacionamento que disputam com outras putas: um amor que não recebem e nem dão. Tudo é negócio, a vida, um ócio, uma monotonia de esperar, no apagar das luzes, que brilhe a sua estrela. Fingem. Apenas fingem que gostam e em paga, recebem dinheiro e fingimento. Aqueles a quem chamam de meu homem. Não são seus, pertencem às esposas que os maridos deixaram em casa. Nada fica, nada sobra para uma prostituta: nem presente, nem futuro. E quando envelhece, dorme na rua inalando o perfume do tesouro que guardou em cesto roto E bebe o cheiro da creolina que os proprietários derramam, no fim da tarde, sobre as calçadas, para não serem incomodados com a visita noturna dos moradores de rua. É assim no Rio de Janeiro e em muitas cidades pelo mundo afora.
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Texto: Adalberto Lima
Imagem: Fabio Teixeira -Internet
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