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Erotico-->17. IRREVERÊNCIA -- 03/03/2003 - 11:07 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Muito meditei a respeito dos termos com que redigi a mensagem anterior. O bom deste sistema de se transmitir um capítulo por dia está em que o tempo fica a favor dos mensageiros, podendo rascunhar a defesa de possíveis críticas que surjam na própria mente do mediador.

Desse modo, pude entender que passei aos leitores a idéia de que fui desprezado por mamãe. Nada mais falso. Eu é que tive essa impressão. Impressão e não convicção. Como posso fundamentar conclusões em tão poucos elementos positivados na realidade?

O que sei, verdadeiramente, é que fui retirado do Umbral por esse espírito que me ama, sem contradita, porque alguém poderia levantar a suspeita de que outro espírito benfeitor pudesse ter assumido as feições dela, para o efeito de não me rebelar contra quem estava a propor-me viagem cujo termo não tinha como conhecer.

Precisaria desenvolver a descrição do Umbral e dos seres que lá jazem, sua psicologia e sua maneira de encarar a existência, o Universo. Essa é tese que não me atrai, especialmente por não ter conhecimentos muito extensos e por não me ter dedicado com afinco ao estudo dos caracteres. Aliás, o que venho intentando é, justamente, apreender o sentido de minhas reações, para definir, pelo menos, uma espécie de atributo espiritual característico de entidade naquelas condições.

Mas não vou apagar a sensação que transmiti de que, verdadeiramente, penso ou sinto o que escrevi, embora não esteja sendo reverente para com ser tão magnífico, ser que me acalentou a infância, sem falar em que me pôs no mundo, após o sacrifício da gestação e dolorido parto natural.

Aqui é que adentro outro aspecto sórdido das urdiduras mentais, pois fico a imaginar, por falta da certeza da comprovação das recordações de antes da encarnação, que poderia ela ter recebido qualquer ser, uma vez que se espojara na paixão pelo marido.

Falando bem francamente, estou pondo a descoberto o que me existe de edipiano na formação mental. Sempre fui ciumento de Mercedes, a ponto de considerá-la minha. Durante os transtornos da escuridão umbrática, passava horas de desespero, imaginando-a traindo-me, como se rememorasse acontecimentos concernentes a outras vidas.

Não faz muito tempo que intentei derivativo dessa teoria, ou seja, que Mercedes pudesse ter sido mui querida e fiel esposa e, por isso mesmo, ao me aceitar como filho, estava desejosa de caracterizar o relacionamento com outro gênero de amor, sem as implicações da dominação pelo sexo.

Irreverentemente, portanto, lancei a dúvida da formação moral de criatura a quem deveria prezar acima de todas as demais. Não consigo, porém, desfazer a terrível impregnação cerebral das vibrações de ódio, porque, no fundo, a degenerescência do amor pelo ciúme redunda exatamente nesse caos psíquico, quando os seres passam a comportar-se inconvenientemente, apesar de estarem cientes de que não deveriam ceder aos impositivos dos sentimentos inferiores.

Sei que os leitores são bem capazes de entender o que venho tentando esclarecer, bastando que se lembrem do tabagismo e do alcoolismo, cujos súditos têm absoluta certeza das causas e conseqüências, entretanto, não se condicionam para eliminar os vícios.

Se eu pesasse mais de duzentos quilos, poderia argumentar que não era a comida que estaria elevando-me o peso? Por mais que estivesse arruinado o sistema endocrínico, não poderia aduzir como razão para adquirir peso o fato de que a doença é que era responsável por isso. Precisaria de ajuda especializada? Certamente. Não seria imprescindível, mas por que não me aproveitar do conhecimento profissional alheio, quando a aquisição deles demandaria tempo demasiado, até que se iniciasse o regime restaurador da saúde?

Poderia trazer à baila todos os vícios oriundos dos psicotrópicos e dos alucinógenos. Esses se caracterizam de forma muito mais aguda e a dependência dos usuários é vista como de dificílima cura. Para os viciados, existem clínicas especializadas, numa das quais, por exemplo, está internada Criseide.

É por isso que estou sob o amparo dos socorristas da “Escolinha de Evangelização”.; porque são os “profissionais” da assistência moral, formados na teoria e na prática, aptos a realizar acompanhamentos de crises do tipo pela qual estou passando, uma vez que tenho conhecimento dos males que se me instalaram no ser, que não me ponho disposto a suplantar, como comprova a insidiosa presença dos pensamentos destemperados.

Espero em Deus que Mercedes venha logo visitar-me, trazendo as informações que me tranqüilizarão.

E se os dados que me fornecer (que lhe permitirem oferecer-me) confirmarem-me as suspeitas? Terei pensado em que poderei recair e refocilar-me de novo nas Trevas, desesperado e imbecil, incapaz de reverter, obviamente, o passado, furioso comigo mesmo por sentir-me apaniguado por inteligência tão fulgurante e, ao mesmo tempo, estúpido até o fim, no descontrole dos sentimentos?

Surge-me, agora, a perspectiva de que algo do que arquitetei possa estar correto e outra parte, a mais importante, sem fundamento na realidade. Aí, estaria eu preparado para o exame isento dos fatos e das pessoas?

Certamente, não. Enquanto me aborrecer com a lembrança de que Mercedes pertenceu a outro...

As imagens dos gêmeos se me cristalizam na mente, causam repugnância e constrangem-me o coração. Carla, ao contrário, provoca-me doce rebeldia contra a possibilidade de tê-la como inimiga, como rival, como...

Quanto me dói a ausência de recordações! Quanto me doem as lembranças dos crimes que cometi!

Já me disseram que, aos poucos, os fatos bons e prazerosos irão surgindo, para a sufocação dos aspectos ruins da vida e das deliberações tendenciosas ao prejuízo dos demais. Faço força para pensar neles, diligenciando a restauração dos dias em que a consciência não me acusava, para brincar na saudade de Francisco e Geraldo, no amor de Criseide, na proteção de Mercedes, na companhia de Carla. Empenho-me para restaurar os momentos em que, na escola ou no trabalho, tive satisfações, sucessos, admirado por participações brilhantes nos debates e exposições jurídicas.

Fico, nesses instantes, com os olhos marejados, cego para a realidade exterior, constrangido pela anterior incompetência para a percepção de que aqueles eram, verdadeiramente, momentos de felicidade.

Tem razão o poeta quando se refere ao fato de que as pessoas são felizes e não sabem. O pior é desconfiar, posteriormente, de que a felicidade entrevista sob a perspectiva histórica não se tenha concretizado, ou melhor, que o passado está sendo recriado pelo desejo de superação das deficiências atuais, extraindo-se dos quadros mnemônicos os arcabouços psíquicos arcaicos que determinaram a ausência da noção de felicidade.

O momento presente constitui-se no problema sentimental que deve ser resolvido e o indivíduo retrograda no tempo, aspirando restabelecer princípios psíquicos que acredita sob os escombros dos sofrimentos.

Não preciso ser percuciente para admitir que as reflexões que venho dispondo em forma de raciocínios (que se querem lógicos) possam ser falsas, inverídicas, fruto do dado maior acima referido: a irreverência com que tenho tratado os temas mais sagrados da espiritualidade.

Saber, no sentido de ter conhecimento, eu sei, e todas as virtudes sou capaz de enumerar e descrever, utilizando-me de exemplificação abonatória, nos prós e nos contras. Vivenciar estou verificando que está quase impossível. Pelo menos, para efeito de me manter junto a esta tribuna, devo alertar para o fato de que pretendo despojar-me da malícia e caterva de vícios da alma, para o que roguei aos benfeitores amigos que me perdoem o desplante da erudição com que impregno os textos. Acho que, enquanto não despojar a linguagem, vivificando frases e parágrafos, não estarei preparado para as mudanças que a inteligência me preconiza.

Que Deus me ajude!

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