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Erotico-->13. ENCALACRADO -- 27/02/2003 - 06:40 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Tanto falei a respeito dos sucessos terrenos que me esqueci de ater-me apenas aos mais importantes. Isso significa que deveria ter evitado a escolha segundo as impressões de dor, elegendo também aqueles que me trouxeram prazer e que persistiram em plano secundário, porque construíram, em concordância com os outros, a minha personalidade.

Por exemplo, falei que Criseide fora tomada em matrimônio por ser rica. Mas também era muito bonita e cedi-lhe aos encantos da beleza física e intelectual. Devo também referir-me a ela com paixão, porque enamorei-me, verdadeiramente. Cheguei a amar a moça, durante os tempos do curto noivado e do casamento, até os meninos entrarem para a escola.

Tomei-me de ódio depois, quando percebi que me traía e não só com os rapazes e moças, mas também porque mudara visceralmente de atitude para comigo, vendo em mim um ser tacanho, sem possibilidade de incrementar-lhe a vida com aventuras de caráter sensual e sexual.

A bem dizer, transformei o forte egoísmo da psique em perda irremediável, dado que não me interessava mais conviver com criatura que se entregara aos vícios e que não se perturbava, despudorada, com as críticas dos outros, inclusive da família.

Nós não tivemos palavras ásperas um para com o outro. Quando deixou de me procurar para todos os efeitos do relacionamento matrimonial, preferindo passar o tempo fora de casa, reconheci que não estava em mim a força de superação dos males que me causara, tanto que não me esforcei nem um pouco para influenciá-la, sequer através de pessoas do trato comum.

Como herdei a casa, certamente porque ela não quis levar os filhos, calei-me, proprietário cheio de cobiça, temeroso de ter de despender as economias com algo que considerava meu, pelo trabalho da educação das crianças.

Mas não era eu sovina, na estrita acepção da palavra. Quis, tão-somente, aproveitar-me da situação, descrente para as exigências que se fariam inócuas perante os tribunais, tendo sopesado os prováveis argumentos do ministério público, considerando-os muito frágeis perante a fortaleza de minha postura moral.

Quão diferente é o ponto de vista que esposo agora! Aqui no etéreo, as razões materiais caem inteiramente por terra. Vemos de maneira muito mais clara a necessidade das pessoas de serem socorridas, de serem auxiliadas ou, ao menos, avisadas. Neste ponto, lembro-me de Mercedes, que me deixou alertado para as conseqüências dos atos incompatíveis com a moral superior e não com aquela acima referida, corrente na sociedade dos humanos.

Não quero dizer que, se corresse atrás de Criseide, iria desviá-la do caminho que tomou. A sorte não pertence às outras pessoas, quando existe a tendência consignada na vontade dos interessados em levar a vida pela maneira que julgam a melhor.

Neste ponto sempre é bom argumentar com a vida do Cristo, sob dois aspectos distintos: ele não só não intentou convencer a cada um em particular, como ainda não se deixou convencer de que morrer pela humanidade não resultaria em benefício extraordinário. Não foram os evangelistas e quedaria a cruz esquecida, donde se pode concluir que o cristianismo deve muito mais à pregação, aliás recomendada pelo Cristo, do que pelas suas próprias atividades de divulgação.

Não vou cair no embuste da exegese histórica, porque me responderiam, com razão, que os meios de que dispunha o Mestre eram muitíssimo limitados. Entretanto, não creio que tenha deixado nada que não fosse através da tradição oral. Eu sei que, se tivesse ele dedicado o tempo a escrever, não teria alcançado o renome das pregações nos templos e nos auditórios naturais da montanha e da beira do mar. Já pensaram se Jesus se tornasse mero escriba, sem as curas e as demonstrações de poder espiritual e mediúnico? Seria mais um desses autores esclarecidos mas muito pouco lidos. Teria, talvez, impressionado os letrados, deixando a massa analfabeta na ignorância, pela falta das instituições públicas de educação. Considere-se que o povo hebreu estava sob a dominação romana e vejam que tudo teria sido impossível.

Entretanto, se não houvessem os evangelistas divulgado a doutrina cristã, narrando os fatos principais da pregação e da vida do Nazareno, não seria admissível que a tradição oral subsistisse a duas ou três gerações. A História não registra a permanência dos ensinos de nenhum grande espiritualista sem copiladores e escritores.

Assim, eu vejo a minha futura administração existencial, também sob o duplo aspecto da escrita, que se desenvolve, e da ação socorrista, que devo levar a cabo junto a Criseide, debilitada psíquica e espiritualmente.

Nesta altura, recapitulo os conceitos anteriormente emitidos a respeito da opinião que trouxe sobre os correligionários humanos do movimento espírita e corrijo o ponto de vista emitido, aceitando que tenham razão quando levam conforto material e moral aos carentes. Jeremias me fez ver que estava errado, mas precisei meditar para chegar à mesma conclusão, o que me levou a aplicar aos meus gestos a crítica que fiz aos demais.

Valham-se, amigos, destas experiências subjetivas que tento externar sob forma muita vez desarrazoada, neste ir e vir de idéias e sentimentos, falando e me arrependendo em seguida, encalacrado, como epigrafei, para demonstrar que Kardec trouxe à mente dos homens de boa vontade a paz da verdadeira doutrina espiritual, tornando os mortais confiantes em que, se cumprirem as normas do viver estabelecidas nos Evangelhos, irão ter os corações serenados e a alma preparada para os eventos subseqüentes a essa passagem obrigatória de uma a outra substâncias fluídicas.

Peço, humildemente, perdão à esposa, por não tê-la ajudado, quando mais necessitada de mim. Deveria ter compreendido que o desprendimento dela era simples faceta da personalidade. Quem sabe, se eu lhe tivesse aceitado as terríveis imposições dos vícios, com muito sacrifício e jeito, não lhe houvesse influenciado o ânimo para respeitar a vida dos filhos, que dela precisavam em razão do carma?

Faço conjeturas difíceis de comprovar. Não tenho exemplificação hábil de pessoas que se arremessaram na voragem das dificuldades e retornaram em glória, trazendo consigo os que provocaram esse tipo de reação, entes amados e em descompasso de vida.

Jesus foi censurado por adentrar os lares dos que o povo considerava maus. Respondeu que o médico entra nas casas dos doentes. Contudo, os livros sagrados não trazem casos definidos de seres que se regeneraram. Sabemos que Jesus teve muitos discípulos, além dos apóstolos, gente que instituiu a prática salutar dos princípios do amor a Deus e ao próximo, do dar também o casaco e do andar mais outra milha. Contudo, houve o Judas Iscariotes, a negar todos os ensinos do Mestre, estando tão perto dele.

Defino-me, concluindo, pelo norteamento do futuro pelo melhor de mim, em proveito do próximo. Certamente, não sofri os mesmos remorsos do Traidor, porém, aconselho aos leitores que prestem atenção aos dizeres desencontrados da dissertação. Nada existe mais terrível na espiritualidade do que pensar em fazer o bem, ou melhor, em programar atender ao chamamento de Jesus, e reconhecer-se inoperante, porque a vontade não é soberana sobre as deficiências do caráter.

Quando penso nos momentos de alegria conjugal, relembrando as feições de Criseide dos tempos em que fui feliz, as lágrimas insistem em correr, porque me responsabilizo pela perda e por tê-la acusado e aos companheiros pelo desvio para as sarjetas da ignomínia moral.

Tomei como exemplo das coisas agradáveis que deveria ter mantido o relacionamento com Criseide. Meus pensamentos se voltam, também, para as coisas boas que Mercedes me proporcionou, que Carla, Anacleto e Fabrício tinham a oferecer, que Geraldo e Francisco não desenvolveram, e dos demais seres a quem me liguei por laços consangüíneos.

A cada um devo levar o meu sentido pedido de desculpas, caracterizando, previamente, o cunho da dívida a saldar, de antemão predispondo-me ao perdão do que me possam ter feito. Essa análise vai depender de séria pesquisa de comportamento, incluindo o conhecimento isento de emoções dos vínculos pregressos relativos a outras encarnações e aos períodos no etéreo.

Solicitei de Jeremias permissão para implantar as medidas saneadoras, sem a aquisição dos conhecimentos aludidos. Respondeu-me:

— Querido, a necessidade de saber o que o levou a agir pela maneira que o fez não está presa à curiosidade estulta daqueles a quem apenas interessam as aparências. Se você agiu, significa que foi motivado. Se partir para a reparação simples e pura dos erros, estará desarmado perante as razões aventadas pelos prováveis desafetos e contendores. Por outro lado, há que aprender a superar as dificuldades, o que o levará à pergunta imprescindível: — “Que dificuldades?” Conhecer-se a si mesmo é isso que preconizamos para a realização do ideário cristão, o que não comporta negligências nem fanatismos, no sentido de nada caracterizar ou de tudo querer compreender. À medida que for entendendo as causas das ações e reações, poderá reconhecer a verdadeira personalidade dos seres com quem teve os entreveros. O saber, amigo, como você aprendeu na Terra, não ocupa lugar e o tempo irá passar de qualquer maneira, aproximando, afinal, os que deveriam encontrar-se juntos, segundo a programação frustrada.

Que tal, leitores amigos, repensar a respeito do título desta página?

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