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Cronicas-->A estória mais mentirosa do mundo. -- 16/11/2002 - 20:34 (Darlana Ribeiro Godoi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Certa noite, tomado de insónia, o califa Harun Al-Raschid mandou chamar o poeta Abu-Nauas e disse-lhe:

- Ó, Abu-Nauas, estou agitado e oprimido. A única coisa capaz de me divertir seria ouvir uma história tecida de mentiras da primeira à última palavra. Se puderes improvisar essa história, recompensar-te-ei generosamente; mas se puseres nela um grão de verdade sequer, juro que farei com que a tua cabeça se separe do teu corpo.

Este estranho pedido fez o pobre Abu-Nauas sentir-se bem indisposto, especialmente na região do seu pescoço. Mas ninguém escapa à vontade de um califa. O poeta pediu vinho, bebeu e começou a falar:

"Sabei, ó Comandante dos Fiéis, que quando meu pai nasceu, minha avó entregou-me a criança e me pediu que a distraísse. Levei meu pai no ombro e saí para a rua. Mas meu pai chorava, e chorava, e chorava; e nada conseguia acalmá-lo até que viu um cesto de ovos à porta de uma quitanda; então, sossegou de repente e, indicando o cesto, disse:

- Quero um desses!

Comprei-lhe o ovo, e ele ficou radiante.

Quando voltamos para casa, deixou cair o ovo. O ovo quebrou-se, e dele saiu um pinto. E o pinto começou logo a crescer. Cresceu tanto que se tornou igual a um camelo.

Não podeis imaginar, ó Comandante dos Fiéis, a quantidade de alimentos que esse pinto devorava. Meu avó começava a se preocupar quando uma boa idéia assomou-lhe à mente. Disse-me ele:

- Meu filho, por que não levas esse galo pela manhã à floresta e o carregas de lenha para o fogão?

Assim o fiz; mas no dia seguinte, a ave amanheceu doente, com um ferimento nas costas. E imaginai a nossa surpresa quando deste ferimento vimos surgir, todo verde, um broto de nogueira. Dentro de pouco tempo, o broto tornou-se uma nogueira gigante, com doze ramos tão grandes e tão esparsos que não era possível ouvir-se de um ramo para outro.

Quando chegou a época de colher as nozes, doze homens foram encarregados de proceder à colheita. E quando acabaram, meu avó mandou-me ver se não tinham esquecido alguma fruta entre a folhagem. Examinei a árvore e descobri, apenas, uma noz, na ponta de um ramo.

Apanhei o que me pareceu ser uma pedrinha e atirei-a de encontro à noz. A noz caiu. Mas, para meu deslumbramento, o que julgara ser uma pedra era, na verdade, um torrão de lama seca que começou a se estender numa gigantesca planície até cobrir todos os ramos da nogueira.

Naturalmente, meu avó ficou encantado de ver tantas terras adicionadas às propriedades que já possuía.

Mandamos construir escadas e subir o gado para cultivar a nova terra; e tão vasta era ela que precisamos de doze bois trabalhando um mês inteiro para lavrá-la.

Quando o solo ficou pronto, perguntamos a alguns lavradores qual seria a plantação mais indicada. Todos aconselharam o sésamo.

Semeamos a área de sementes de sésamo. E mal tínhamos acabado de plantar, eis que vieram outros lavradores e perguntaram o que havíamos semeado. Quando respondemos "sésamo", puseram-se a rir, dizendo:

- Sésamo! Onde se viu plantar sésamo em terra virgem? Deveriam ter plantado melancia, que é a melhor planta para o solo virgem.

Meu avó olhou para mim com tristeza e mandou-me apanhar todas as sementes de sésamo que tínhamos semeado na imensa planície.

Obedeci e apanhei todas as sementes sem um murmúrio sequer.

Quando tinha reunido todas elas, meu avó contou-as e achou que faltava uma, e mandou-me procurá-la.

Busquei-a por toda parte, mas não houve meio de encontrá-la. À tardinha, porém, quando voltava para casa desesperado, vi uma formiga arrastando a semente perdida.

- Não me escaparás! - gritei-lhe, e tentei me apoderar do sésamo, puxando-o para meu lado; mas a formiga não o largava e o puxava também.

Nenhum de nós se dava por vencido até que, por fim, o sésamo partiu-se em dois e, por Alá, um rio de óleo de sésamo espalhou-se entre a formiga e eu. Sem exagero, ó Comandante dos Fiéis, era um rio tão largo e profundo quanto o próprio Tigre.

Então, plantamos novamente a terra, desta vez com sementes de melancia. E quando as melancias amadureceram, fui encarregado de vigiá-las.

Certo dia de calor, quis comer uma melancia. Passei a vista por todo o campo e escolhi a maior de todas. Depois, saquei da minha adaga e tentei abrir a melancia. Mas a minha adaga entrou na fruta e desapareceu. Não podia eu segui-la, dentro da melancia, e deixar minhas plantações sem vigia. E não queria perder meu facão.

Pensei e pensei e então tive uma idéia luminosa: decidi cortar minha cabeça, com a minha espada, e pó-la por cima da torre de vigia. Assim ficava livre para ir procurar minha adaga.

Sem hesitar, pus meu plano em execução.

Quando entrei na melancia, achei-me dentro de uma cidade. Tudo nela era-me novo e desconhecido. As ruas estavam cheias de gente. Todavia, olhando com atenção, verifiquei que todos aqueles homens eram, como eu próprio, sem cabeça, embora parecessem acertar o caminho sem dificuldade.

Comecei a andar e, logo depois, dei com uma multidão reunida em volta de um pregoeiro que perguntava em alta voz:

- Quem perdeu uma cabeça?

Quando me aproximei, vi que se tratava da minha própria cabeça. Gritei-lhe:

- Essa é a minha cabeça!

Mas outros reclamavam a mesma cabeça. Então, o pregoeiro gritou:

- Lançarei esta cabeça ao ar e, no pescoço onde ela cair, ficará!

A cabeça subiu no ar e, quando desceu, veio diretamente para o meu pescoço. Olhei em volta de mim e, pela vida do meu senhor, não havia nem cidade, nem campo de melancia, nem nogueira, nem galo do tamanho de um camelo, nem pai recém-nascido, nem nada de todas as coisas que lhe contei, ó Príncipe dos Fiéis!"

Harun Al-Raschid ficou de tal maneira satisfeito que desatou a rir. E acrescentou:

- Não é sem razão que te chama o príncipe dos poetas. Nunca ouvi história tecida de tantas mentiras. E embora pusesses nela alguma verdade lá pelo fim, fizeste-o com tanta habilidade que não te pedirei conta disso e te compensarei conforme mereces.

E Harun Al-Raschid premiou Abu-Nauas com um rico traje de seda e um saco cheio de ouro.



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