É um assunto melindroso, um assunto em que, sempre que possível, evito tomar partido. Os terroristas de hoje serão, muitas vezes, os heróis de amanhã. Os terroristas de hoje são para uns, bandoleiros e assassinos. Para outros, guerrilheiros e milicianos.
Por outro lado, obviamente que sempre lamentei as perseguições aos judeus, os campos de exterminação, as câmaras de gás, as humilhações porque passaram... Depois, admirei-os pela facilidade (resultado de esforço e de trabalho) com que transformaram areia em campos cultiváveis e como construíram uma nação. Quantos «terroristas judeus» não terão actuado durante o período nazi e no período imediatamente anterior à criação do Estado de Israel ? «Honra lhes sejas feita» ! Posteriormente, foram considerados heróis e alguns chegaram aos mais altos postos da Nação...
Quem será mais terrorista ? Será o jovem suicida que se imola, juntamente com explosivos, no meio de pessoas de um País que ele julga (talvez com alguma razão) ser a causa de muitos males e humilhações do seu Povo ? Serão os jovens que afrontam os tanques com pedras e fisgas ? Ou serão os que também matam e massacram inocentes, se bem que de modo mais convencional e com armamento mais sofisticado ? O leitor que decida, tendo em conta os meios de que dispõem as forças em confronto .
Exigir que Yasser Arafat acabe com o terrorismo será fácil de dizer . Ironicamente, os israelitas começaram por atacar a polícia, destruir as prisões, arrasar um país em construção (princípio já aceite pela ONU) e, cúmulo da humilhação, confinar o líder palestino a uns escassos metros quadrados, sem o mínimo de condições. «Magnânimos», autorizarão Arafat a sair, desde que ele não volte à Palestina. Mas em que mundo vivemos nós ? O governo israelita não estará também a ser terrorista sob todos os aspectos ? Que me perdoe o povo judeu ! Nem todos terão culpa. Nós, portugueses, sabemos do que falamos. No tempo de Salazar, os fascistas eram apenas uma minoria... Não confundimos Sharon com o povo israelita, mas temos direito à indignação.
Se fosse tão fácil acabar com o «terrorismo», ainda existiriam a ETA em Espanha, o IRA na Irlanda, etc., etc. ? Ainda existiriam governantes de países que espalham a morte e o terror, onde os seus interesses estão em perigo, ou como medidas de retaliação ? Os Estados Unidos deram o exemplo e nós, em face da mediatização dos acontecimentos do 11 de Setembro, quase fomos «obrigados» a aceitar como justa a invasão e destruição do Afeganistão. Estava criado mais um precedente. Agora Israel, amanhã a Rússia, porque não a China ? Cada país terá os seus terroristas a perseguir e a dizimar.
Agora, com os media em cima dos acontecimentos, assiste-se quase em directo a coisas quase surrealistas. Americanos a pensar (em voz alta) qual país vão atacar a seguir ao Afeganistão... Americanos e ingleses a discutir (quase em público) se vão ou não atacar o Iraque... Americanos que se calam, até Israel acabar «o seu trabalho» e que só reagem quando vêem que a coisa não tem fim. A Europa, sem qualquer protagonismo, limitando-se a declarações de circunstância. A ONU reunindo-se e aprovando resoluções que não são acatadas.
Para onde caminhamos, neste novo século ?
|
