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Erotico-->10. VONTADE DE VOAR -- 24/02/2003 - 07:02 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Confessei-me “pé de chumbo”, na falta de expressão melhor. No entanto, o desejo da alma, assim considerado o vocábulo “alma” em acepção figurada, é o de se desprender dos liames que me seguram neste ambiente de sofrimento.

Durante a vida (conforme deixei evidente), não fui capaz de superar ou de sublimar as dificuldades, agudo desespero que me atormentou até o suicídio. Momentos vivi em que pensava poder ultrapassar as lindes da rememoração da tragédia, fato que não se repetiu no Umbral, onde a pressão mental se exerce diuturnamente, como se se eliminasse o tempo e só existisse a dor.

Quem enfrentou dores atrozes de dente, de estômago ou a peçonha dos aracnídeos, tem a leve noção do que estou dizendo, uma vez que, na carne, existem medicamentos para aliviar a ardência ou o aguilhão que penetra cérebro adentro. Queimados se sentem melhor até com o som de certas melodias.

Nas Trevas, região mais profunda do Umbral, não se tem sossego nem esperança. Por isso, quando saímos, trazidos por irmãos socorristas, que nos parecem espíritos de luz ou mensageiros do Senhor, somos levados a acreditar em que tudo se resgatou de uma vez por todas, conforme sugeri no capítulo anterior.

Essa idéia logo se desfaz pela conturbação mental que se segue, por causa da iniciativa natural da compreensão dos fenômenos psíquicos, no sentido de se dominarem as causas e os efeitos, para que não se caia de novo em semelhante agonia.

O brado que mais se ouve nas profundezas conscienciais é a célebre frase:

— Que fiz eu?!

A interrogação se repete sem a entonação dramática, adquirindo matizes de cunho científico, de seriedade espiritual, no interesse evolutivo que se instala.

— Que fiz eu?

A pesquisa íntima é que prende a gente junto ao solo, embora o coração almeje as alturas.

Aí, a perquirição se modifica:

— Que fazer?

Quando não se tem orientação de mentores esclarecidos, como foi o meu caso, assim que me libertei das presilhas do remorso, fica-se imaginando que os demais seres nos devam proteção e esclarecimento. São indícios de que os hábitos terrenos se arraigaram na personalidade, resquícios da dependência dos anos da infância junto aos pais e da adolescência junto aos professores.

Quando se está encarnado, obtêm-se esses privilégios pela inocência e pela fragilidade. Como espírito, a situação é constrangedora, porquanto chegamos adultos, querendo ostentar força perante os que nos perseguem, cheios de malícia nos raciocínios formulados para o engodo e para o ludíbrio. Quando penso em mim, acrescento as manhas advocatícias, o enredar retórico dos silogismos e dos sofismas, a impressão do poder da palavra pelo abuso das leis.

Mais uma vez, sou obrigado a inclinar-me respeitoso para a preclara manutenção dos estágios infantis. Aqui chegando como crianças, logo as entidades dotadas de alguma luz, na lembrança do que na Terra se faz, adotam o sistema do amparo, da orientação, do reconforto, ignorando por opção o passado desses seres, o qual pode representar tremendo peso cármico, a levar os infelizes, assim que se recordarem de quem foram, ao desespero umbrático.

A construção de colônias de auxílio aos que sofrem sem acusar o Pai não se fez de forma a imitar as instituições terrestres. Aqui, a necessidade de crescimento moral une os espíritos de mesma categoria, de mesma vibração, que é o que também acontece nas paragens mais tristes. A partir dessa união, as diferentes aptidões e experiências conduzem os objetivos do pretendido progresso, de forma que as informações que se trocam vão ampliando-se pelo número de indivíduos. Torna-se de rigor a confecção de códigos de aproveitamento, de escalas e tabelas de funções, para que todos possam perpassar pelos diferentes setores que vão definindo-se.

Aos que chegam e encontram a colônia montada, parece que tudo sempre existiu exatamente pela forma que está. Uma das providências mais urgentes é o relato minucioso da história da formação do instituto, para que se inteirem os novatos de que ninguém ali é perfeito, como ocorre junto aos humanos, para quem os chefes, os diretores, os comanditários, os mais antigos, os responsáveis, enfim, são pessoas de cabedal quase completo. Para os mortais, portanto, quando algo falece no direcionamento dos objetivos, os que estão no comando são os primeiros a serem acusados e investigados. Para os da espiritualidade, deve ficar claro que os neófitos responderão sozinhos pelas perturbações da assistência que lhes está sendo prestada.

Vejam, amigos, que minha vontade de voar se roja por terra, porque a pretensão esbarra na ignorância, na falta de prestação de serviços e até no ódio sufocado... Digo mal. Deveria lembrar que odeio determinadas pessoas e que pretendo vê-las passar pelas mesmas fases cármicas que eu, não no intuito sadio de que aprendam, de que vicejem para a vida espiritual.; porém, na expectativa de que venham a experimentar os sofrimentos atrozes acima descritos.

Eis a realidade de meu “pé de chumbo”.

Estimula-me o texto para recordar aspectos da personalidade que me prenderam aos vícios de pensamento, durante a vida. Penso na constante iniciativa de me ver prevalecer sobre os demais. Buscava fugir dos temas comuns e me envolvia nos aspectos técnicos do Direito. Contudo, não me afigurava apropriado buscar a companhia de colegas, com quem manteria contatos eruditos e poderia ser derrotado em meus pontos de vista. Procurava, sim, pessoas humildes e lhes despejava os textos legais, falastrão, pretendendo impressionar, o que me levou a oferecer vagas no escritório a jovens estudantes, que dispensava tão logo se manifestavam dotados de conhecimentos jurídicos perigosos para o meu jogo de poder.

Ouvindo-me discorrer tão abertamente sobre a falha de caráter, poderão julgar que esteja curado do mal. De parte dele, sim, porque da antiga crista resta bem pouco. Mas a conclusão que pretendo é aquela segundo a qual se possam realizar as mesmas pesquisas psíquicas, durante a vida, para que esta leitura e outras de cunho espirítico venham a aproveitar-se positivamente.

Ontem, ao ditar o capítulo, emocionei-me e nem pude encerrar direito as considerações que fazia a respeito do valor desta espécie de meditação de além-túmulo, para a devida preparação para a morte. Tal perturbação me levou a comprometer-me a oferecer outros desenvolvimentos de mesma importância, sendo esse o objetivo da presente dissertação. Prometo volver aos meus casos, nas próximas unidades.

De qualquer modo, penso ter caracterizado a minha “vontade de voar”.

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