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Erotico-->9. QUESTÕES FILOSÓFICAS -- 23/02/2003 - 08:10 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Inútil dizer que venci a hesitação de trazer aos leitores as dúvidas que assombram minh’alma, desde o momento em que vi confirmarem-se os princípios da Doutrina Espírita.

Durante a vida, materialista de primeira linha, não querelava os sistemas espirituais, por julgar improcedentes as discussões sem fundamentos argamassados na matéria, pelo processo da comprovação empírica necessária, como se as idéias pudessem ser submetidas aos sentidos. Era como me descartava de adentrar os pórticos das religiões, porque não aceitava a derrogação das leis universais que os milagres representam.

Os espíritas devem admirar-se de que tenha mantido esse pensamento coincidente com as noções administradas a Kardec pelos benfeitores da Codificação, havendo o Mestre Lionês desenvolvido o tema até às últimas conseqüências. Crescerá a admiração quando souberem que Mercedes me manteve informado exatamente da não existência dos milagres, segundo o aprendizado que auferia no Centro Espírita.

Que idéia fazia eu, então, da existência? Como respondia às principais perquirições dos seres humanos, desde que se reconheceram com autonomia mental para efetuarem raciocínios puros, abstratos, lançando para outras esferas as soluções com que não atinavam, porque incapazes de comprovação?

Simplesmente me desligava dos devaneios filosóficos, buscando pôr pé na realidade concreta dos sentidos, afirmando, peremptório, que o mais que o homem podia conhecer estaria limitado ao aperfeiçoamento do instrumental que lhe dava sensibilidade para ver o menor e o maior, para ouvir o distante, para distinguir olfatos e paladares, através de procedimentos químico-físicos, cujo conhecimento se fizera desde que se dera prioridade para o desenvolvimento das ciências, com o objetivo prático de facilitar as tarefas, para o conforto e o bem-estar das pessoas.

Metia o dinheiro de permeio ao ideal científico e aceitava que as universidades se dedicassem à pesquisa pura, isenta do interesse dos setores industriais, agrícolas e comerciais. Mesmo essa concessão, entretanto, não vinha sem a suspeita de que os pesquisadores visavam ao lucro que obteriam com o registro das descobertas e das invenções, créditos que lhes dariam a fama e os cargos, além dos “royalties” e das participações nos dividendos.

Essa lúgubre desconfiança da pureza das intenções de todos os mortais trouxe para o etéreo, obviamente por imergir diretamente no Umbral, local em que os espíritos mais categorizados não chegam a compreender sequer a razão de terem de aceitar os próprios sofrimentos como conseqüência das atitudes em detrimento da felicidade alheia.

Na escuridão, o universo se restringe aos seres malignos, infelizes, muito imperfeitos, maldosos e tudo o mais que signifique preocupação para a segurança dos demais. Se, na Terra, somos capazes de nos furtar às companhias desagradáveis, podendo isolar-nos em relação às pessoas que desejam ferir-nos, a menos que estejamos encarcerados, condenados pela Justiça a cumprir pena nos presídios e cadeias públicas, lá onde me vi arrojado, assim que cheguei espavorido, com tremenda dor de ouvido a repercutir por todo o cérebro, o mundo se restringia ao pior.

Sei agora que existem paragens mais sombrias, mais terríveis, mais infernais, mais lúgubres, mais infestadas de espíritos que não reconhecem nenhum dos princípios evangélicos, forcejando por ver prevalecerem os ideais do ódio, da dor, do sofrimento, impiedosos até para consigo mesmos, aproveitando-se de todas as oportunidades para a perturbação das mentes dos encarnados afins ou que não se premunam contra a falsidade, a torpeza, a malícia, o vitupério, os crimes em geral.

Naquele ambiente, ao contrário do que se vê sob a luz do Sol, não há ninguém que estimule a bondade dos demais, padres, professores, assistentes sociais, pessoas mais equilibradas, que oferecem palavras de boa vontade, de reconforto, que buscam tranqüilizar as ânsias, que pretendem ser úteis no amparo dos que sofrem por causa das turbulências da vida.

Reconheço que houve época, na vida, em que não admiti nenhum ato de sublimação do principal crime, ou seja, a morte dos filhos. Quando alguém se aproximava para me trazer o amparo das experiências mais dolorosas, mais dramáticas, mais contundentes, não permitia que me expusessem as maneiras pelas quais poderia compensar, ajudando seres ainda mais desesperados.

Chamei este capítulo de “Questões filosóficas”, mas devem estar estranhando esse título os amigos que estudaram Filosofia, porque não estou refletindo sobre as causas últimas, sobre o ser e o não-ser, sobre a moral, sobre a ética ou a estética, sobre o destino. Poderia, se quisesse, mencionar alguns teóricos e sábios e respectivas teses, segundo o ponto de vista sociológico das estruturas mentais vigentes em seu meio e como fizeram para superar o pensamento estabelecido, dando passos à frente. Mas esses conhecimentos trago de forma muito imperfeita, desde os tempos em que estudei nos compêndios do curso colegial, não me aplicando ao necessário aperfeiçoamento posterior, dado que me integrei à força de trabalho, a qual me absorvia por inteiro. Quando me ocupei das funções públicas, simplesmente despachava processos, dava pareceres técnicos, citava a legislação e voltava para casa, para curtir os filhos ou a dor da perda. Para que o relato se complete, devo dizer que lamentava de contínuo a deserção de Criseide, as alfinetadas dos gêmeos, o afastamento dos sogros e dos cunhados e assim por diante, porque me encastelei no meu “ego”, até o desfecho sangrento.

Mas eu dizia que não se encontrará aqui o desenvolvimento das teses filosóficas, senão que apresentarei conveniente reforço do ideário espírita, mal assimilado e não totalmente conhecido.

Quando Kardec, nas diferentes obras, se pôs a analisar os textos evangélicos, leitura a que me obriguei recentemente, para encetar este trabalho sem ferir os princípios doutrinais espíritas, me fez ver que deveria ter ouvido Mercedes ainda na matéria, uma vez que precisei retornar aos conhecimentos divulgados entre os mortais, conhecimentos que desprezara e que me estavam faltando, mesmo em forma de memorização inconseqüente, para ter onde me apoiar, para requerer o resgate das trevas.

Eis que revelo, afinal, o princípio filosófico em falta, como causador de perturbações, no momento em que me compenetrei de que agira em detrimento de mim mesmo. A esse aspecto, darei o nome de filosofia de vida e recomendo aos amigos que façam e refaçam as leituras dos textos basilares, para terem subsídios teóricos, no caso de se verem jogados em ambientes desagradáveis. Com certeza, não precisarão perlustrar essas paragens de terror, se acrescentarem fé, esperança e caridade no trato dos semelhantes, buscando atender à lei do amor.

Paro para refletir sobre o meu sofrimento.

Se eu amava tanto aos filhos, a ponto de jogar fora a vida, como é que, ao chegar ao recanto em que se situavam no etéreo, não me desfiz em lágrimas e súplicas de perdão? É que, naquele instante, tinha subido à cabeça a convicção de que me sacrificara pelo suicídio e que me abismara na dor, pagamento que efetuei certo de que toda a dívida estava saldada.

Se eles me tivessem aparecido com as figuras das anteriores peregrinações carnais, ter-me-iam acusado, provocando-me as reações da insatisfação cármica contra a benevolência e a misericórdia do Senhor. Aparecendo-me na qualidade de crianças, correndo para me abraçarem, dispunham-se solidários com a minha dor, refazendo o pacto prévio da encarnação, no qual, sem dúvida, lhes prometera assistência, compreensão e carinho. Recrudescer-se-me-iam os afetos, se não estivesse tão cheio de egoísmo, de empáfia, de presunção, na cobrança da realidade que, mais cedo ou mais tarde, deverei recuperar.

Mais acima, preguei aos encarnados para aceitarem a doutrinação cristã do amor. Eu mesmo, naquele triste e infeliz momento, não fui capaz de reconhecer o amor das crianças e a comiseração de Deus.

Arrependo-me durante a confecção desta página, que reconheço muitíssimo imperfeita. Quem sabe os maiores se condoam de mim e me ofereçam nova oportunidade de encontro com os pequenos, para que possamos selar a confiança que em mim depositavam cá mesmo no etéreo, depois de lhes ter provocado a morte.

Neste instante mediúnico, sinto-me profundamente decepcionado comigo mesmo, impotente para realizar qualquer raciocínio de grandeza moral, para assegurar aos leitores a verdade das emoções. Somente posso advertir para que não caiam na mesma armadilha e não brinquem de filósofos, deixando para os mais sábios os pensamentos transcendentes das teorias do existir. Trabalhem pelos irmãos e aceitem as dádivas de todos os amores.

É impossível prosseguir.

Fiquem com Deus!

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