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Erotico-->7. A ARMA COM QUE ME MATEI -- 21/02/2003 - 06:30 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Era uma “taurus”, leve, calibre 22, fulminante a pequena distância. Comprei-a no mercado negro das esquinas. Sem porte de arma, sem registro, desconfio que o sujeito ou usou para o crime ou obteve de quem tenha usado.

Por que digo isso? Porque, desde o primeiro contato, senti forte repelão moral, emocional, certa impressão de que vibrava com pesar e, ao mesmo tempo, com ódio.

Diria hoje que vítimas ou assassinos estavam por perto, prevenindo-me para a possibilidade de vir a empregá-la muito mal, se bem que, pensando seriamente sobre esses apetrechos bélicos, pouco benefício podem apresentar, conquanto as forças policiais se utilizem deles para debelar os marginais e impor respeito à autoridade legal.

Como pude chegar perto desse comércio espúrio? Ora, não afirmei que defendi criminosos confessos e outros tantos que negavam, “pro forma”, a autoria dos crimes imputados pela promotoria?! Conheci inúmeros delinqüentes que me ofereceram seus préstimos, nos ramos de atividades de todos os setores da bandidagem. Eram traficantes, que me traziam a droga para a esposa. Eram contrabandistas, que me vendiam quase de graça os produtos da importação clandestina. Eram falsificadores, que se propunham a forjar provas, na defesa dos comparsas “sub judice”. Eram justiceiros, que juravam de morte os que porventura pudessem ameaçar-me. Eram assassinos, que se propunham a facilitar a transferência dos inimigos para o outro mundo. E eram vendedores de armas.

Aqui vou situar-me em perigosa bifurcação para a continuidade da confiança que os leitores depositaram em mim, à vista das informações que forneci. É que me disse falido no exercício da advocacia, vindo a necessitar do apoio de mamãe, para me assegurar modesto emprego público. Se não conto toda a verdade, exponho-me ao descrédito perante os mentores, que me estão dando tão magnífica oportunidade de regeneração. Se digo tintim por tintim o que fiz junto aos pérfidos, aos maliciosos, aos iconoclastas da moral burguesa, vou levar os leitores à conclusão de que é ilógico que aqui esteja tão pouco tempo depois do passamento, redimido de crimes tão hediondos em período recorde, antes mesmo que a vida biológica estivesse extinta, uma vez que teria, nesta data, a idade de cinqüenta e nove anos.

Querem toda a verdade, com certeza. Então, devo revelar que o relacionamento com os perversos deu causa a processo contra minha pessoa, dentro da Ordem dos Advogados, processo sigiloso, cujo resultado foi a recomendação de que não mais exercesse a advocacia.

Eis revelada a ganância que me fez rejeitado de mim mesmo, quando descobri a sanha com que enveredei pelos procedimentos mentais dos criminosos, adaptando-me facilmente aos ideais materialistas, confiante em que os tentáculos da justiça dos homens não me alcançariam, descrente da de Deus.

Foi por essa época que Criseide me deixou, curtida pelos psicotrópicos e pelas drogas mais leves que então se utilizavam. Posteriormente, veio a consumir heroína, haxixe, acido lisérgico, arruinando a saúde física e mental.

Durante as desesperadas pesquisas que levei a cabo no Umbral, na tentativa de caracterizar a personalidade da mulher com quem me unira e de quem me sentia, a um tempo, credor e devedor, especialmente porque demos vida a dois espíritos de considerável harmonia moral, encontrei um indivíduo que me reconheceu como marido de Criseide.

— Você é o advogado expulso pela Ordem? É, sim, não há dúvida. O gajo que se casou com Criseide, a bela, a voraz...

— E você é...

— Você não vai se lembrar de mim. Eu estava junto àquele grupo que, uma noite, foi buscar a sua mulher para a farra...

— E agora representa a lei de talião, aquela que me quer cegar...

— Deixe disso! Estou querendo restaurar as alianças com os outros seres, segundo padrões vibratórios mais adequados para a ascensão à morada dos seres de luz. Mas os malditos...

— Nisto estamos de acordo. Malditos, sim.

— ...mas os malditos me repelem, dizendo que me encontro sujo, porque impedi o desenvolvimento físico de diversas crianças, por ter exercido o tráfico, ao invés de combater o vício.

— Não vou querer atirar nenhuma pedra, mas, se estivesse exercendo aqui a profissão de defensor dos direitos humanos, iria ter de concordar que o seu crime é passível de condenação. Poderei arranjar-lhe desculpas para os atos, porque é o que venho tentando fazer em relação a Criseide. Contudo, tenho visto muitas criaturas rastejando pelas trevas da consciência, sob a influência das anomalias de comportamento adquiridas durante a encarnação, por força de se deliciarem dopadas, sob o efeito de drogas, causa de suicídio, da mesma forma que fiz ao atirar na própria cabeça, apenas com a diferença de que o fazem de maneira devagar e sem a intenção definida de morrer.

— Aí, o advogado deve estar falhando, porque, conforme tenho observado, os viciados têm a noção exata, mais que isso, a convicção de que não irão sobreviver aos tóxicos. Você ouviu falar do “crack”?

— “Crack” é anglicismo para cavalo vencedor e bom jogador de futebol.

— Você está por fora. Não tem vagado pelo Orbe?

— Estou errando por estas plagas, esperando ser acudido por minha mãe ou por meus filhos. (Devo dizer que esta conversa se deu há pouco mais de um ano.)

— Vou embora, mas, antes, pretendo ouvir de você que não me está acusando de ter abusado de sua mulher, de ter feito com que ela dissipasse a vida no vício...

— Só pretendo saber uma coisa.

— Vamos ver.

— Quando meus filhos morreram, Criseide não apareceu para o velório nem para o enterro. Você sabe me dizer onde ela estava naquela data?

Dei-lhe todos os detalhes do local e da data.

O sujeito ficou pensativo, rememorando os acontecimentos, a partir da noite em que me viu pela única vez. De vez em quando, soltava exclamações doloridas, porque se avivavam as condições infelizes do encarne. Enfim, com supremo esforço, pôde assegurar-me que estava todo o grupo acampado à beira do mar, detalhando o que fizeram no campo da sexualidade, o que me constrangia a considerar-me vítima e não algoz, contrafeito por ter de ouvir semelhantes ocorrências com pessoa que deveria ter preservado junto a mim.

Vou passar por cima da crua discussão que se seguiu, para resumir que Criseide esteve impedida pelas drogas e pela deliberação de seguir o plano do nomadismo, fugindo da polícia e dos beligerantes civis, intolerantes que acuavam os do amor livre, obrigando-os a se afastarem das cidades, para formarem pequenas comunidades em lugares desertos, logo desbaratadas pelos cidadãos protegidos pelo pagamento das taxas e impostos oficiais.

Recuso-me a considerar a atitude dela como de desamor pelas crianças. Aceito que não teve nenhuma atração maior por mim, porque fui resgatado por mamãe, que me abriu os olhos quanto às idéias de perversão da moça, levando-me a afastar-me dela, ao impacto da notícia verdadeira da selvajaria sexual a que se entregava, em meio à horda dos amigos (amigos?). Eu e meus filhos, que fiz questão de furtar à presença da drogada, antes que lhes desse a experimentar.

Quando comprei a arma, queria garantir-me em relação aos assaltos da turma, porque ouvira dizer que aquela gente precisava das crianças para dar a impressão de responsabilidade civil. Defendera mesmo um deles da acusação levada a efeito pelos pais de seqüestrado, que afirmava que o filho estava perdido para a sociedade, estragado pelas drogas etc. e tal.

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