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cronicas-->Isso já foi palavrão -- 06/11/2002 - 16:28 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você que é novinho não deve saber. Mas a expressão porra louca já foi obscena. Outro dia, eu conversava sobre isso com o João Paulo, meu filho. Ele tem 11 anos de idade e é claro que não acreditou no que eu dizia. Os meus filhos costumam fazer isso. Sempre acham que é brincadeira. É nisso que dá querer ser moderninho.

Pois bem, vamos à enciclopédia pessoal. Nos anos 60, a exclamação "Porra!" era palavrão. Em casa, não se falava de jeito nenhum. Afinal, essa era a forma grosseira de se referir ao sêmen humano. E quem era "de família" não usava essas expressões. Ria, pode rir. Mas era assim mesmo. A liberação dos costumes veio depois.

Tudo o que se referia a sexo, sexualidade e reprodução humana era tabu. Não se esqueça que eu estou falando de uma época em que as moças ainda ficavam incomodadas naqueles dias. Mulher não engravidava, ficava em estado interessante. Nem se sonhava em falar de TPM.

A menstruação, então, era secretíssima. Todo mundo falava de xico, o codinome menstrual que ainda hoje resiste. Mas comprar absorvente íntimo era motivo de vergonha absoluta. Especialmente quando o comprador era filho da mulher que precisava do "acessório".

O "porra louca" liberadinho de hoje, portanto, era palavrão, porque fazia referência direta ao espermatozóide. Até é engraçado imaginar isso, mas o fato é que era palavrão.

Atualmente, qualquer criança não acha mistério nenhum em ver um filme com o espermatozoidezinho ensandecido, a mil, tentando conquistar o óvulo. Aliás, é ele, o espermatozóide veloz, o tal do porra louca.

Então, o meu filho achava que eu estava brincando com ele. Descrença que aumentou quando eu disse que "putz" também era palavrão. Da mesma forma que "cacete", "babaca" e "pentelho", respectivamente pênis, vagina e pêlo púbico que enrosca. Nossa, essa "tradução" ele não aceitou de jeito nenhum. "Ah, pai, pára com isso, você está mentindo".

Bem feito, quem mandou querer explicar as coisas para os filhos. "Você está me sacaneando, pai!", ele disse quando afirmei que sacana também era palavra-feia, com direito a tapa se falada na frente dos mais velhos dos meus tempos de criança. E não adiantou nada dizer que isso faz parte da evolução da língua, que muitos dos palavrões de hoje serão expressões corriqueiras no futuro.

Do alto da lógica pré-aborrecente, o João Paulo perguntou: "Mesmo filho daquilo, pai?". E aí quem ficou achando que era sacanagem fui eu. Essas crianças são muito impertinentes. Isso é pergunta que se faça para um filólogo amador? Ora, faça-me o favor!

Maurício Cintrão
(Crónica publicada em 06/11/02 pelo jornal Valeparaibano, de São José dos Campos-SP)
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