A vida passa rápido, a gente nem se da conta do passado, parece
que foi a semana passada que ía para Escola estudar, pescar no
porto do João Martinho em Araquari-SC. Pegar caranguejo no mangue,
pescar, jogar pelada de futebol no campo da volta redonda, time
local que eu ajudei fundar, lá no sul. A saudade das discotecas,
dos bailes de sábado á noite, fórros, bares, os hospitais onde já
trabalhei, em quase todas as grandes cidades deste nosso Brasil.
Mas quando você já passou dos 40 e, não gosta nada da idéia,
tem de tomar o maior cuidado com o que diz. Se passou por
experiências inacreditáveis, conviveu com as pessoas mais interessantes,
culto, artistas, professores, médicos escritores, pior ainda; pode cair na
tentação de falar sobre assuntos que, mesmo fascinantes, vão fazer
que você pareça aos olhos dos mais jovens o irmão mais velho de
matusalém. Todo cuidado é pouco , é pouco se alguém fala de
mulheres, esportes, política, arte, danças, festas etc...Mas tem sempre
alguém que lembra alguma coisa, pode pegar mal essa sua memória.
Para casos como esses só existem duas soluções: ou você fica
inteiramente mudo ou, se quiser entrar na conversa, deve se referir
ao fato como tendo ouvido falar, por um tio muito idoso. Na minha
época de adolescente e jovem, não tinha internet ,telefone celular,
micro-computadores, só tinha radio de pilha e televisão preto e
branco. Se o assunto for música, nem pensar em comentar que
naquele tempo, " Cuidado também com essa expressão", as canções
eram bem mais bonitas; outra coisa, a noite do meu bem, lembrando
aquela dor-de-cotovelo, aquele lembra ? Alias, dor-de-cotovelo
também não pode nem falar ou sentir. Quando o tema for restaurante,
faça todos os esforços para não mencionar pratos como, estrogonofre
ou bife com arroz e feijão, o pão de cada dia, se não quiser ser
expulso da mesa. E , em matéria de produtos de beleza, não caia
na tentação , achando que alguém vai achar alguma graça, de citar
produtos antigos, como Helena Rubistaim ou brilhantina. Vai passar
pelo vexame de começarem a fazer calculos para saber sua idade,
e aí que você não vai achar a menor graça. Sem poder mencionar
nada do passado a conversa fica dificil, claro, mas o que vão pensar
de você seus amigos mais jovens. Eu sugiro que quando o assunto
sobre o qual você poderia dar um testemunho pessoal e, na sua
opinião, interessante, ou cale a boca ou diga que leu alguma coisa
a respeito num livro, jornais, é duro mas é a solução. E não fique
triste: esses mesmos jovens que ficam de olhos arregalados, quando
você conta uma história do tempo de sua infància, adolescencia e
profissional, viagens etc... Vão um dia estar na mesma situação
que você. Quando abrirem a boca para falar do planet hemp, da
emocão que tiveram com o primeiro micro-computador que seu
pai deu, ou no baile funk, sempre haverá alguém mais jovem para
olhar eles , exatamente do mesmo jeito que eles olham para você
agora. Faço esta crónica aqui no Bairro de São José do Albertópolis,
Guaira-SP. Para mostrar à você leitor mas adulto, que além disso
que explanei, que pode acontecer em festas, encontros, grupos,
temos o grave problema do racismo amigavel e a discriminação.
Recordar é viver.
-José Angelo Cardoso.-Poeta, contista, artista plástico.
Presidente-fundador da Academia Guairense de Letras.
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