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Artigos-->A ARTE E A EXPRESSÃO DE SENTIMENTOS OCULTOS -- 27/08/2015 - 22:53 (LEANDRO TAVARES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Qual o significado de uma pintura? Você se julga capaz de determinar com precisão o que um pintor quis dizer com uma pintura? Sabe identificar com autenticidade o que ele verdadeiramente quis te passar com aquela mistura nebulosa de tintas e cores? Será que você é realmente capaz de mergulhar na profundidade dos sentimentos de um artista? E pior ainda: nadar até a zona abissal do inconsciente sombrio que está oculto nas curvas e retas da expressão artística? A quantas anda o teu nível de abstração?

Se você é um ser normal, componente das grandes massas, integrante somente de um tecido celular uniforme, não conseguirá jamais chegar nas profundezas e minúcias da mensagem de um artista. Você precisa ir além. Transpor. Transcender. Passar do estado sólido para o líquido. Do líquido para o vapor. Ou do sólido diretamente para o vapor, e depois para o líquido, e também para um estado físico que não existe para a maioria, mas tão somente para o artista e para aqueles seres raríssimos que o compreendem na essência e plenitude de sua profundidade singular e única.

Para entender a voz e a alma de um artista é necessário tempo. Precisa-se de tempo, necessita-se também de paciência, a qual é um dom de poucos. Imprescindível também é a reflexão: parar, pensar, perguntar, questionar-se uma, duas, três e quantas vezes for necessário. Buscar a certeza em meio à nebulosidade abstrata não é tarefa fácil, nem tampouco acessível à grande maioria dos mortais. Talvez seja por isso que os artistas se eternizam, ganham a imortalidade, a qual é estranha aos seus próprios entes de convívio carnal. Aliás, a carne não integra a arte. Ela é sobretudo duas vezes. A primeira vez porque é sublime; logo, está acima de tudo — daí o primeiro significado de sobretudo. A segunda, a seu turno, porque é mais importante: ela é espírito. Apenas se manifesta por meio dos esforços desfalecedores da carne.

Vou citar aqui uma canção, uma arte oculta. Uma mente que sempre esteve além de seu tempo. Por sua imensa e anormal capacidade de percepção do real e também do irreal. Do irreal que era e sempre foi, para ele, real. Muitos gritam até hoje sem saber porque se gritava essa mesma mensagem há alguns anos atrás: “Toca Raul!”

“Toca Raul” pode significar “toca aí Raul, você mesmo!” ou então “toca as músicas do Raul”. Mas quem conseguir submergir, ou melhor, emergir até as alturas dos pensamentos de Raul, terá muitas surpresas e percepções que os integrantes do tecido celular uniforme jamais terão.

Pois então vamos lá! Estás disposto a tentar romper com as ideias que te escravizam os pensamentos? Queres sentir o vagar e o movimento dos pensamentos de Raul? Tens coragem? Consegues torturar a ti mesmo? És capaz de cortar teu peito ao meio e extrair seu próprio coração, de forma a senti-lo palpitar em suas próprias mãos?

Difícil responder, não é? Dá medo!

Medo da chuva (Raul Seixas)



É pena que você pense que eu sou seu escravo

(Aqui Raul diz do sentimento de posse de sua esposa/mulher)



Dizendo que eu sou seu marido e não posso partir

(Como se um marido não pudesse partir, mas qualquer marido ou mulher podem partir)



Como as pedras imóveis na praia eu fico ao teu lado sem saber

Dos amores que a vida me trouxe eu não pude viver

(Aqui Raul expressa tédio no que tange a sua relação; expõe a monotonia daquela convenção social que não o fazia mais feliz. Fala também dos potenciais amores que poderia ter vivido, ao invés de ter se contentado com o marasmo de uma vida de mentiras)



Eu perdi o meu medo, meu medo, meu medo da chuva

(Perder o medo da chuva significa perder o medo de se molhar, de arriscar uma nova vida, de sentir os pingos caindo no rosto e um friozinho/ alívio depois, friozinho este que só sente quem teve a coragem de se molhar)



Pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar

(Ou seja, a chuva traz água limpa e cristalina, uma água da melhor qualidade, uma água nova)



Aprendi o segredo, o segredo, o segredo da vida

Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar

(Para Raul, permanecer estacionado em algo que não nos faz feliz não é levar uma vida vegetativa; é pior: é levar uma vida de pedra)



E não posso entender tanta gente aceitando a mentira

(Ele não aceitava a vida de aparências que grande parte das pessoas levavam, e levam)



De que os sonhos desfazem aquilo que o padre falou

(Os sonhos não desfazem aquilo que o padre falou. Ao contrário, eles são coerentes com aquilo que o padre falou. Só não me pergunte o que esse padre falou, pois eu não vi a cerimônia, nem era nascido)



Porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo, hoje eu sei

que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez, uma vez.

(Jurar o amor a uma única pessoa pode ser uma falácia. No período de uma existência conhecemos muita gente, mas amamos poucas pessoas de fato. Entretanto, o termo “poucas” não significa uma. A alegria maior está em dividir o nosso amor: um amor para cada fase de nossas vidas.)



Eu perdi o meu medo, meu medo, meu medo da chuva

Pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar

Aprendi o segredo, o segredo, o segredo da vida

Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar

Vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar

Vendo as pedras que sonham sozinhas no mesmo lugar



A riqueza da arte está na profundidade do olhar de quem a contempla, na astúcia do ouvido que a ouve, e na sensibilidade da alma que a sente.

Um artista pode nos ensinar muito, muito além de nossas percepções superficiais.



Por Leandro Tavares.

Rio de Janeiro, 27 de agosto de 2015.

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