Ela acorda no meio da noite
O marido dorme calmamente
A janela do quarto está aberta
A brisa entra suavemente pelo vão
As cortinas balançam
O brilho da lua cheia a atrai ao batente
Ela observa a paisagem, com calma
Ao fundo, uma árvore destaca-se das outras
Ela não pode ver o que é
Mas sente-se impelida
Algo dentro dela ordena
Ela precisa ir até lá
Veste um véu negro
Em meio às sombras
Entre o luar e a escuridão
Encontra a porta
Sem fazer barulho
Segue em direção à árvore
Qual segredo guardaria aquela mata?
E ela segue em meio ao bosque
Guiada apenas pela lua
Chega ao local onde desejava
Não vê nada
Nada ouve além de sons de animais distantes
Folhas balançam
Algo a toca, por trás
Ela apenas sente
Um par de mãos agarra-lhe a cintura
Nada pode ver
E quando vira o corpo
Lábios quentes e úmidos dão abrigo à sua boca sedenta
Os olhos fechados, em transe
Permitem ao desconhecido visitante desfrutar de todo aquele lindo corpo
Ele beija os cabelos longos e negros, os olhos azuis
A boca vermelha, a pele clara
Os lábios tocam os lindos seios e seus bicos rosados
Os braços finos, o abdome
E finalmente chega a seu objetivo
Os pêlos negros da fenda de onde surge a vida
E, com a boca, suga todos os seus fluidos
Todos os líquidos que teimam em jorrar impacientemente do corpo da amante
Ela o quer
Ela o deseja
Ela precisa daquele momento
Ela necessita que aquilo seja eterno
E será
Não haverá dia seguinte
Os corpos em chamas se tocam
A conjunção emite luz
Astro e estrela unidos
Iluminando o mundo à volta
Um coito entre dois deuses
O momento está chegando
Um dentro do outro
Até que os dois se transformem em um
E num instante a explosão
Dois gritos ensurdecedores atravessam as montanhas
São ouvidos nos lugares mais remotos
Uma explosão destrói tudo o que há em volta
O que resiste se incendeia
Assim como os corpos incandescentes dos amantes
Saciados, deitam-se na grama
E não se dão conta
O mundo acabou
Nada existe ao redor deles
Apenas eles e seus corpos
Um pertencerá ao outro
Os dois serão um
Uma única testemunha do fim de tudo