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Cronicas-->A espera -- 07/07/2000 - 02:36 (Fernando Tanajura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A ESPERA


Ele já estava naquela esquina há bastante tempo. Olhava de um lado para o outro parecendo esperar alguém ou alguma coisa que mudasse a sua vida. De quando em vez verificava no pulso esquerdo um relógio imaginário. Confirmava, com um leve menear da cabeça, o bolo que estava levando. Não desistia: esperava. Nem a chuva fina que caia lhe desanimava o esperar. O par de tênis furado já estava encharcado de tanto pisar em poças d´água que se formavam na calçada. Por duas ou três vezes passou a mão direita por sobre o sexo, segurando-o por alguns instantes, parecendo querer reconfirmar a sua
virilidade.

Será que ele esperava que alguma princesa, ou mesmo um rei, aparecesse de repente para uns momentos agradáveis ou, quem sabe, colocar alguns trocados em sua carteira vazia? Não, não penso que esperava por isso. Esperava por muito mais, e não era uma simples fantasia. Demonstrava que esperava quem viesse lhe consertar os caninos, únicos dentes que lhe restavam; quem viesse lhe dar as vitaminas necessárias para ter bastante energia e, assim, poderia estudar, ler e até aprender outras línguas. Não esperava só alimento, dinheiro e roupas - isto era muito pouco. Esperava a saúde e também a justiça. Tinha esperança de dias melhores como qualquer ser humano que se preze: casa própria, TV e vídeo cassete, computador, carro e telefone celular. Queria passar dias à beira da praia ou em bordas de piscina de clube nobre. Queria também conhecer Paris, Nova Iorque, Londres, Cancún e Mykonos. Queria participar dos shows de rock e dos bailes funks com direito
a todas as drogas oferecidas e disponíveis nos mercados oficial e negro. Não via o perigo de dirigir embriagado, sujar as ruas, poluir os mares, os rios e o ar. Não via problema algum: alguém liparia depois.

Continuou ali na esquina olhando o relógio inesistente, coçando o saco, esperando o salvador, supondo e imaginando que Deus, o rei ou o governo
algum dia iria resolver todos os seus problemas. Tinha a esperança de que os políticos, mais cedo ou mais tarde, deixariam de ser corruptos, que os
banqueiros sempre iriam estar ao seu lado e que o milagre iria chegar a qualquer momento envolto em um largo sorriso.

Ele ainda está de pé, bem ali na esquina, esperando.


© Fernando Tanajura Menezes
(n. 1943 - )
(in Revista Alternativa - Boston, MA/EUA Dezembro/99)
http://tanajura.cjb.net
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