Rumo ao Calvário.
Ana Zélia (25.01.2015)
Perdi as contas, o tempo que venho carregando umas
cruzes pesadas demais rumo ao Calvário.
Pelo caminho deixei ficar outras tantas, enterrei algumas,
deixei-as fincadas no infinito da estrada.
Cheguei a odiar minha volta pra casa, ouvir marido,
apanhar sem saber o motivo, cheguei a odiar o mundo, a mim mesma.
Odeio até hoje finais de semana, sábado, domingo, Natal,
festas de carnaval, tudo que para alguns são símbolos de alegria,
bebidas, festejos, a mim era a morte se aproximando.
Podia ser esfaqueada a qualquer instante, receber um tiro certeiro
e desconhecer a causa, lutei tanto, pensei que tivesse vencido,
mero engano, perdi todas e continuo sem ganhar uma,
hoje perco pra filhos, nora, netos, irmãos, família inteira.
Era a viga mestra, virou madeira podre, bichada,
os cupins destruíram minha alma, nem chorar eu posso.
São tantas dores, tantas magoas, tanto ódio que cresceu em mim.
Minha força tem vindo da fé que tenho em meu padrinho (São Bendito),
minha madrinha, Sra. da Conceição, meu protetor Jorge e seu fiel escudeiro,
Seu Saci, este dragão que Ele mantém preso embaixo das patas de seu cavalo,
mas que eu rogo a Ele, Luz, para que possa se postar em nossa frente,
defendendo dos inimigos todos.
Ainda estou viva, graças a esta fé, choro em silêncio
pra que ninguém veja que sou fraca, um lixo.
Choro no caminho pra que o vento sopre em meu rosto como carícia.
Preciso me manter viva, pelo valor monetário e pelos muitos a
quem ajudo, seu eu morrer, o Estado será meu herdeiro necessário.
Pobre criatura, em verdade me perdi na caminhada.;
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