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Cronicas-->Uma dia de música e emoção -- 24/10/2002 - 13:46 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ontem eu, minha esposa Valdinete, e nossa filha, Suzana, fomos ao recital da Orquestra de Integração do Pará, do Conservatório Carlos Gomes. Suzana fazia seis meses de nascida e creio ter sido um excelente presente, ainda que ela não pudesse desfrutá-lo em sua totalidade. Esse primeiro contato com os acordes e melodias um dia dará frutos. Meu sobrinho, Alan, de treze anos, estuda no Carlos Gomes há quatro, e é 3º violino na orquestra.

A principal razão de eu ter comparecido ao evento foi saber que a orquestra tocaria parte, a primeira, do belíssimo Cànon em ré menor de Johann Pachelbel. Essa música eu descobri quando comprei um CD atraído pela capa, na qual se destacavam as Quatro Estações de Vivaldi. Em destaque menor estavam o Adágio de Albinoni e o Cànon. Imediatamente fascinado por essa música, eu a quis para a cerimónia do meu casamento, a ser executada ao vivo, é claro; por motivos diversos não foi possível. Ficou a paixão e a expectativa de um dia ouvi-la executada por uma orquestra. Esse dia chegara.

Como é comum nos eventos aonde os pais vão para dar uma força aos filhos, ou, no meu caso, os tios aos sobrinhos, sempre se percebe uma certa euforia na platéia, por conta desses familiares que não conseguem esconder sua emoção e orgulho pelo fato de suas queridas crianças estarem sob os olhares atentos, mais até do que os ouvidos, da multidão presente.

Antes da apresentação da orquestra, alguns alunos iriam executar peças individuais. Uma mãe, sentada ao meu lado, lendo o programa, sem conseguir esconder a ansiedade, muito próxima do orgulho, disse-me de súbito, já que não nos conhecíamos e nenhuma palavra havíamos trocado antes, que seu filho, Mário Ney, 2º violino na orquestra, seria o segundo a se apresentar. Percebi sua euforia e fui contagiado por sua expectativa, aguardando também a segunda apresentação.

Depois que uma jovem executou uma peça com muita desenvoltura, Mário Ney dirigiu-se ao centro para executar a peça, uma "Gavotte", de P. Martini. Depois de um começo seguro, o jovem músico titubeou em uma sequência de notas curtas, por isso muito rápidas na execução. Parou. Imediatamente a mãe, cujo nome não perguntei, baixou os olhos, como que envergonhada. A professora que acompanhava as crianças ao piano, gentilmente tocou a sequência correta. Ele prosseguiu até o fim sem maiores problemas. Após essa apresentação, a professora explicou que aquela era a primeira apresentação solo das crianças, por isso um nervosismo e os erros seriam naturais. De fato, outros jovens músicos tiveram problemas, nada contudo que lhes diminuísse o talento e a certeza de um futuro promissor na música.

Passadas as apresentações individuais, chegou a vez da orquestra tocar algumas peças. Eu queria mesmo era a sexta apresentação. Queria ouvir o Cànon. Finalmente chegou o grande momento. Quem conhece a música sabe que ela começa com o contrabaixo abrindo o caminho para os violinos. Cada voz melódica esperando sua vez de entrar. Quando todas entram, não há coração que não se sensibilize pela beleza divina desse Cànon. Os olhos fechados salvam o espírito de se ocupar com outras imagens que lhe impeçam de captar em sua totalidade a harmonia daqueles acordes magistrais.

Infelizmente a orquestra executou apenas a primeira parte. Mas foi o suficiente para elevar nossa mente aos mais belos sentimentos e sensações. Olhando para a mãe do jovem músico, notei que ela enxugava os olhos. Não sei por que chorava. Fosse por seu filho ter errado a execução de parte da música na apresentação solo, fosse por vê-lo, mesmo depois do episódio, participando daquela hora de sublime beleza e emoção, agora contribuindo com seu violino para aquela harmonia esplendorosa, o certo é que a música tem o poder de emocionar o espírito, mesmo quando esse se mostra propenso a cuidar das coisas superficiais.

Queria poder dizer para aquela senhora que os erros vão ficando para trás, ao passo que aquilo que nos ensinam jamais esquecemos. Quem sabe o seu filho não tenha aprendido que, sendo jovem, tem tempo de se esforçar ainda mais, exercitar ainda mais, para que, mais na frente, possa estar entre os maiores músicos?

Parabéns, jovens músicos!
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