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Artigos-->PREMONIÇÃO DE ROCHA BRITO -- 27/07/2014 - 15:49 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



 





PREMONIÇÃO DE ROCHA BRITO






                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 L. C. Vinholes






Nos anos que vivi no exterior, nunca me senti demasiado distante do Brasil, embora reconheça que não me foi possível acompanhar de perto, como sempre desejei, as mudanças e metamorfoses ocorridas nas atividades culturais e artísticas brasileiras. Sempre tive fontes de informações preciosas que, de certa forma, me atualizavam e permitiam seguir determinados movimentos e determinadas conquistas de sul a  norte do país. Esta realidade devo, em grande parte, aos amigos, poetas, artistas e músicos com os quais mantive permanente contato em função do meu interesse em divulgar por onde passei o que o Brasil sempre teve de bom, determinação esta que deixei claro nas atividades e projetos que desenvolvi e concretizei quando, inúmeras vezes, passei a responder pelos setores culturais dos postos diplomáticos onde fui lotado.







Fazendo revisão nas inúmeras pastas acumuladas com o tempo, guardando material diverso que sempre me pareceu útil e valioso, vez por outra deparo-me com algo que, realmemente, não só me surpreende, mas também me causa grande alegria.







Não é que nesta tarefa encontro carta de 23 de novembro de 1966 na qual Brasil Eugênio da Rocha Brito, depois de tratar de assuntos ligados ao histórico de nossa amizade resolve também fazer comentários sobre o que verificava ocorrer de bom e sério na música popular brasileira de meados da década de 1960, apezar das limitações impostas pelo regime militar que se instalou no Brasil com o golpe de 1964.







Dipensando comentários, não creio ser demasiado registrar que Rocha Brito não só é engenheiro civil que trabalhou no Departamento de Águas e Esgotos (DAE)  da Região Metropolitana da capital paulista e, a partir de março de 1963, no Serviço e Água de Santos e Cubatão (SASC), mas que,  concomitantemente, dedicou tempo ao estudo e prática de música, sendo pianista e profundo conhecedor da música popular brasileira, da música de jazz e da música em geral. Sobre ele, músico, são meus artigos Ábaco para Harmonia, publicados no jornal Diário de São Paulo, em 13 e 14 de fevereiro de 1957, e Ábaco: Coincidência ou Plágio. Este úlitmo artigo, desde 30 de setembro de 2011 disponível no site www.usinadeletras.com.br, trata da estranha coincidência entre o “Ábaco circular musical” que Rocha Brito criou e patenteou em novembro de 1955 e o que foi apresentado na entrevista dada ao Ottawa Journal, em novembro de 1979, pelo canadense Howard Bertram. Rocha Brito que, de 1977 a 1984, colaborou com o jornal A Tribuna, de Santos, assina também o artigo Bossa Nova publicado na página Invenção do jornal Correio Paulistano, em 23 de outubro e 6 e 20 de novembro de 1960; republicado, em tradução para o italiano de Cristina Boati, na brochura distribuída, em Milão, pelo Instituto Brasil-Itália (IBRIT), em abril de 1997, juntamente com dois textos comemorativos ao centenário do nascimento de Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha: “Chi era mio Padre: Pixinguinha”, assinado por seu filho Alfredo da Rocha Vianna Neto, e “Centenario della Nascita di Pixinguinha 1897-1973 – Un grande dela musica popolare brasiliana”, de minha autoria. O artigo de Rocha Brito sobre Bossa Nova, foi traduzido para o japonês pelo pesquisador e musicólogo Toyo Nakamura e publicado, em Tokyo, em meados de 1963, na revista “Latin American Chanson e Rhythm” e figurou, ainda, nas páginas do livro “Balanço da Bossa”, do poeta concreto Augusto de Campos, publicado em 1968 pela Editora Perpectiva.







Voltando ao que justifica o título acima, transcrevo parágrafos da carta de Rocha Brito analisando o surgimento de gente nova na seara da música popular brasileira há quase 50 anos.




 







“A música popular no Brasil está pegando fogo. Após uma fase de indecisões, de cisões (trocadilho “concreto” involuntário)[i], a bossa-nova parece ter apontado um caminho onde possivelmente desaguará. Surge um compositor baiano de vinte e poucos anos, Caetano Velloso, com uma linguagem nova, com o aproveitamento do material sonoro do nordeste,  fazendo ele mesmo letras sugestivas, um tanto “mallarmaicas”, sempre autênticas. Uma linha melódica que lembra (sem ser cópia), às vezes, Prokofiev, um lirismo nostálgico, surgindo de um contexto bem elaborado,  digno, sem arroubos.  Interessante é que ele embora um sucesso relativo, está sendo levado em pouca conta mesmo por críticos e conhecedores, mais esclarecidos, já para não se falar do grande público. A meu ver, sua composição “Um dia” estabeleceu algo que não pode ser desconsiderado. Além de Caetano, há Gilbeto Gil, há Paulinho da Viola, há outros muitos compositores que fixarão seus nomes na História da música no Brasil, sem dúvida. De outro lado, os cultores da linha-tronco que derivou de Jobim-João Gilberto surgiram os Marcos Valle, os Francis Heime e outros de altíssimo gabarito. Como diz Jobim, a música brasileira é atualmente impar no mundo. Em nenhuma outra parte se faz uma experiência musical tão séria e consequente como essa de partir do campo “popular” incorporando procedimentos tomados ao campo “erudito” utilizando enfim o que sonharam Woody Herman, Stan Kenton e outros no jazz sem o conseguirem plenamente: ganhar o interesse de uma ponderável parcela do “público” com uma música de nível elogiável e que não fosse de “gozo” privativo de quem já se interessava pela música erudita contemporâea (caso que ocorreu com Kenton, Brubeck e outros no jazz). Estou animado com o que ocorre aqui nesse campo”.




 




Terminando seus pertinentes comentários Rocha Brito que foi aluno de H. J. Koellretter na Escola Livre de Música da Pró-Arte, em São Paulo, e, também, seu colaborador registra:




 





“O prof. Koellreutter quando aqui esteve há um ano e ouviu algo que não estava no estágio do que se poderia apresentar atualmente, afirmou que estava surgindo a música funcional da nova sociedade do estágio integral da consciência humana e que isso ocorria de maneira mais evidente aqui no Brasil. Surgiu uma manifestação de massas com a ascensão destas, numa verdadeira “educação” musical ao invés da pretendida música para o povo imposta pelos regimes totalitários, a qual baixava o nível para ser captada pelo grande público”[ii].





 
















[i] Recentemente, Rocha Brito relendo cópia da sua carta comentou: “eu diria que meu trocadilho foi buscado, intencional, procurando eu um procedimento inspirado na minha “imersão” na poesia concreta, no interesse em louvar amizade e admiração que nutria e nutro para a turma dos irmãos Campos, Décio, Ronaldo e Cia.  Ilimitada. Assim lidei com indecisões/cisões “à la manière de...”.        









[ii] .   Em mensagem recente Rocha Brito recorda “que o que consta na citada carta de 1966 diz respeito a duas conferências do prof. HJK então recém-ocorridas no prédio antigo do “Conservatório Lavignac” na Av. Ana Costa-Santos, uma sobre Arte Funcional e outra sobre Ligações de Música e Pintura (na qual ele exibia telas de pintores que pretenderam “interpretar” nas suas obras, obras musicais como por exemplo a Sinfonia Nº 6 de Tschaikowsky, em outra tela uma Sonata de Beethoven, etc.)   Isso foi algo que não me empolgou e não mais soube ter vingado, restando mais num episódio talvez histórico, sem mais”.







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