50 ANOS DO GOLPE
Comissão do Senado aprova revisão da Lei de Anistia
Novo texto permite punição contra militares e civis por conta de graves violações aos Direitos Humanos
Da Redação - 09/04/2014 - 14h51
A revisão da Lei de Anistia, de 1979, ganhou força nesta quarta-feira (9/4) com a aprovação pela CDH (Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa) do Senado do PLS (Projeto de Lei do Senado) 237/2013. Apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), o texto permite que militares e civis responsáveis por graves violações de direitos humanos durante o período da ditadura militar sejam punidos por seus crimes.
Foto: Geraldo Magela/ Agência Senado
& 39;Não existe pacto quando um dos lados está armado e o outro está desarmado& 39;, afirmou Randolfe (dir.)
A proposta foi colocada em pauta a pedido dos integrantes da Subcomissão da Memória, Verdade e Justiça, que apoiam campanha da Anistia Internacional pela punição dos crimes do regime (1964-1985). O projeto segue agora para exame da CRE (Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional) e da CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) da Casa.
Conduzida pela senadora Ana Rita (PT-ES), presidente da CDH, a votação contou com a presença do presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous, e de representantes de entidades de direitos humanos.
Conforme o artigo 1º do projeto, “não se incluem entre os crimes conexos (definidos pela Lei de Anistia) aqueles cometidos por agentes públicos, militares ou civis, contra pessoas que, de qualquer forma, se opunham ao regime de governo vigente no período por ela abrangido”.
Imposição
De acordo com Randolfe Rodrigues, o objetivo da proposta é superar o entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento da ADPF 153 de que crimes como tortura, sequestro e homicídio cometidos durante o regime militar sejam considerados conexos aos crimes políticos e, portanto, abrangidos pela Lei de Anistia. Para o senador, a lei aprovada em 1979 foi uma imposição do período da ditadura.
“Aquela Lei não foi resultado da luta sonhada e desejada pelos exilados. Não existe pacto quando um dos lados está armado e o outro está desarmado. A Lei da Anistia foi uma imposição” disse o senador, afirmando também que o projeto contribuirá para o resgate da memória e da verdade do país.
O único mérito da Lei da Anistia, segundo o parlamentar, foi garantir o retorno dos exilados, contrários ao regime. Para Randolfe, adequar a Lei da Anistia à Constituição de 1988 e ao sistema internacional de direitos humanos é tarefa urgente do Poder Legislativo.
“Não pode haver ódio, mas não pode haver perdão. Não é uma lei para olhar para o passado, é uma lei para olhar para o futuro” disse Randolfe, afirmando ainda que a ditadura deixou uma estrutura conservadora no estado brasileiro, como o atual modelo das policiais militares.
Tratados internacionais
Em relatório favorável à proposta, o senador João Capiberibe (PSB-AP) reforçou que o crime de tortura é imprescritível, conforme tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
“Não houve na negociação da Anistia igualdade de posições entre a sociedade, refém de um regime repressivo, e seus carcereiros. A ditadura aproveitou-se da força de que ainda lhe restava para impor uma anistia que lhe desse cobertura a sua retirada de cena, assegurando a impunidade de seus agentes mais impiedosos”, disse.
Presidente da Subcomissão da Verdade do Senado, Capiberibe participa da campanha promovida pela Anistia Internacional pedindo a revisão da Lei de Anistia. Desde o dia 1º de abril estão sendo coletadas assinaturas online a favor da revisão da norma. Segundo ele, a persistência dos embates ideológicos em torno dos fatos trágicos ocorridos durante a ditadura civil-militar impedem, de certo modo, que aprendamos lições importantes sobre esse passado.
“E isso ocorre, em parte, porque muitos torturadores ainda podem se apresentar como defensores da ordem, e não como criminosos, pois jamais foram julgados. Hoje, importa para o país e para toda a humanidade que os crimes contra os direitos humanos sejam punidos, para que a impunidade não estimule a sobrevivência da cultura da tortura e da aniquilação violenta dos adversários políticos”, apontou Capiberibe.
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