Sereníssimo escrevente,
Este povo jamais mente,
Quando diz que terminou.
Ponha a pena aí de lado
E não fique preocupado,
Pois embora logo vou.
Valente, o amigo me diz
Que foi o que sempre quis,
Mas insistem os poetas.
Se um pouco mais se concentra,
Na mente uma chama adentra
E as estrofes saem completas.
Porém, tal cumplicidade,
A bem dizer a verdade,
É um inútil desafio,
Pois, a desoras, os versos
Ficam muito mais perversos:
Nesse mérito, eu não fio.
Disse que o tal escrevente
Tinha fibra de valente,
Nesta hora derradeira.
Mas o povo reunido
Vai chiar — eu não duvido —,
Pois já perdeu a estribeira.
Diz-nos ele, sorrateiro,
Que o exercício vem primeiro,
Na linha da obrigação,
Que, se tivermos mais siso,
Vamos orar de improviso,
Nesta forma de canção.
— “Eu truco!” — cantei bem alto,
Com minha voz de contralto,
Com manilha e quatro-paus.
A manilha foi p’ro espaço,
Levei de seis no cachaço:
O meu rio não tinha vaus.
Agradeço a toda a gente
E ao amigo diligente,
Que, sem pressa, me ajudou,
Conforme pedi acima,
Na pobreza desta rima:
— “Graças, bom Deus, eu vos dou!”
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